BLOQUEIOS À CRIATIVIDADE
“Podem os que pensam que podem”. Vergilius.
E finalmente, feito gran finale de novela, aqui vai a última parte de Criatividade, pelo menos por enquanto, pois tenho grandes esperanças que, logo, logo, algo mais surja e nos leve um passo adiante nessa fantástica jornada. Ao contrário de novela, o final feliz não é determinado pela autora, mas sim pelo leitor, que vai usar o material como lhe aprouver. Como tudo mais na vida, o problema não é o problema, mas o significado que lhe damos. A Dra. Sara Mednick (e cols) publicou um artigo interessantíssimo a respeito de sono REM (Movimentos Oculares Rápidos), onde comprova que esse tipo de sono melhora o processamento criativo mais do que qualquer outro tipo de sono ou estado de vigília, mostrando que a ciência, mais uma vez, se dobra às observações de centenas de anos. Lembro-me de meus avós dizerem quando havia algo sério a ser resolvido: “durma em cima disso”. Os autores sugerem que, durante esse tipo de sono, formam-se redes de associação no cérebro, a partir de informações prévias que já estavam lá, mas desencontradas. Pelo visto, desligando o “julgamento”, presente quando estamos acordados, permitimos que o cérebro junte o que previamente não fazia sentido, levando à uma solução criativa do problema. Depois disso, fica fácil entender o que atravanca nosso progresso, começando com nossa atitude:
Ó céus, ó vida, ó azar, um problema!
Usualmente, a reação a um problema é um problema maior que o problema em si. A grande maioria de nós, humanos, nega ou evita encarar um problema, até que a coisa toma um volume tão enorme, que qualquer ação a ser tomada, já não vai funcionar. Isso acontece porque raramente aprendemos que há funcionamentos emocionais, psicológicos e práticos adequados e inadequados, acreditando piamente, e por conseguinte permitindo, que nossas emoções dirijam nosso comportamento. Como já disseram os chineses há milênios, e todo e qualquer livro de autoajuda dos anos 80 repetiu isso ad nauseam, crise significa perigo e oportunidade, e nós escolhemos no que vamos focar nossa energia. Pessoas felizes, segundo a psicologia da felicidade de Seligman, acolhem e até mesmo procuram por problemas, vendo-os como desafios e oportunidades para melhoras. Um bom exemplo continua sendo Steve Jobs, que, ao ser chutado da Apple (companhia que ele mesmo tinha fundado), foi pesquisar, achou a ideia dos maluquetos da PIXAR assaz interessante, investiu um monte de seu dinheiro na coisa, durante 3 anos, nos quais perderam dinheiro como eu perco caneta Bic, depois do que, a PIXAR explodiu como foguete em 4 de Julho. Velho Steve vendeu suas cotas, foi chamado de novo na Apple, onde seu salário era e foi até sua morte, um dolar por ano, mas comprando, de novo, a maioria das ações, e o resto é história.
Só vamos relembrar a definição de problema:
a) A diferença entre o que temos e o que queremos
b) Acreditar que possa existir algo melhor do que a situação presente
c) Uma oportunidade para uma ação positiva.
Na psicologia positiva, acredita-se que a busca de problemas desenvolve o sentido de autoconfiança, aumenta felicidade e nos dá uma sensação de controle sobre nossa própria vida.
Impossível!
Essa é a atitude de “entregar o jogo no primeiro tempo” é dar à coisa um poder que não tinha antes e desistir antes de commeçar, é profecia autorealizada.
Dá só uma olhadinha na história das soluções às grandes negativas da história: “o homem jamais voará”, “doenças são castigos divinos, portanto não curáveis”, e por aí vai. Acho que a atitude correta estava sumarizada numa plaquinha na porta do chefe da cadeira de Neurologia, da Universidade da Florida: “O difícil, fazemos já, o impossível leva um pouquinho mais de tempo”. Minha homenagem atrasada ao fantástico Dr. Melvin Greer. clique aqui
Não posso fazer isso! ou Não há nada que possa fazer!
É quando pensamos que a coisa talvez possa ser resolvida por alguém que tenha um diploma específico na área (costuma ser minha idéia inicial quando começo a ler manual de instruções de algum aparelho eletrônico, principalmente os raios dos telefones “espertos”),ou quando pensamos que não somos capacitados o suficiente, inteligentes o suficiente, seja lá o que for o suficiente. Então tá. Os irmãos Wrights eram engenheiros aeroespaciais? Não, eram mecânicos de bicicletas. A caneta esferográfica foi inventada por um revisor de impressora, Ladislao Biro. O descaroçador de algodão foi inventado por um advogado, Eli Whitney. O Kodachrome (primeiro filme colorido para máquinas fotográficas) foi inventado por dois músicos, Leopold Godowsky Jr. e Leopold Mannes , e por aí vai. Os exemplos são inúmeros…sim, mais dois, Windows e um cara de óculos que nem terminou o colegial, chamado Bill Gates, e tudo da Apple por um cidadão que permaneceu no colegial por 6 meses, sim, adivinharam, Steve Jobs. Aliás, é crença comum e mais ou menos universal que as grandes inovações industriais quase sempre vêm de indivíduos (e não grupos de pesquisa), em áreas totalmente diferentes daquelas da área da invenção. Ou seja, uma boa cabeça, com uma atitude positiva, com interesse e foco em soluções, e não no problema, faz o milagre. A história mais do que demonstrou que a vontade e o esforço são muito mais importantes que qualquer aparelhagem de laboratório. E vamos lembrar o seguinte: sempre se pode fazer alguma coisa. Talvez não se possa, nesse momento, erradicar o problema da face da terra, mas sempre se pode fazer algo para melhorar a situação. Por exemplo, meu sonho é conseguir, através da educação, prevenir drogadependências e um montão de problemas psiquiátricos. Vou conseguir? Não faço ideia, mas todo dia procuro espalhar um pouquinho de informação pelos meios que tenho disponíveis, tipo a mídia social, facebook, twitter, blog. E agora acabo de rir de minha própria cara, pois me lembrei de meu sonho de fazer medicina, quando era adolescente. Sonho simples: entraria na faculdade, penduraria um estetoscópio no pescoço, sairia salvando vidas e eventualmente ganharia o prêmio Nobel. Acho que sou pragmática até em sonhos. Só ainda não ganhei o Premio Nobel, oras, todo o resto, de um jeito ou de outro, fiz.
Isso é criancice!
Em nossos esforços para parecermos maduros e sofisticados, muitas vezes ridicularizamos atitudes criativas, brincalhonas. Agora, falando sério, se resolvemos um problema na nossa vida ao decidirmos fazer piada a respeito, ao invés de meter a mão na cara do outro, é criancice? Winnicott desenvolveu toda uma teoria psicanalítica a respeito do brincar e sua relação com saúde mental, demonstrando o quanto que isso é preciso. E, além disso, quem amadurece são frutas e vegetais. Gente cresce e se desenvolve.
Que é que vão pensar de mim?
“E chi se ne frega?”, como dizem na Itália. Apesar disso, há forte pressão social para nos adequarmos ao que é “comum”, “conformista” e não criativo, dentro da sociedade onde vivemos. Pior, estamos cada vez mais nos dividindo em subgrupos, desde os que seguem os ditames da moda de Vogue, aos roqueiros metálica, dos geeks e nerds aos mauricinhos e patricinhas, cada um carregando seus rótulos como se fossem medalhas, e o desvio do rebanho é taxado de “ridículo”. Algumas pessoas têm um “instinto de rebanho” tão forte, que faz com que as ovelhas pareçam individualistas radicais. Então, que é mesmo que as pessoas estão pensando a seu respeito? Primeiro, você não sabe, e só saberá se perguntar diretamente e a pessoa for honesta o suficiente para dizer a verdade. Segundo, que diferença faz? Vai mudar algo em sua vida se o Zé da esquina achar que sua roupa é ridícula? Se a Mariazinha da praça pensar que seu corte de cabelo está fora de moda? O simples fato é que, alguém vai falar mal de você em algum momento, não importa quão maravilhosa/simpático/esforçada/brilhante, você seja. Até Jesus Cristo teve detratores, e tantos, que foi parar na cruz. Então, já que isso vai acontecer mesmo, vou dar aqui uma de Marta e dizer, relaxa, mas troco o goza por: deixe fluir sua criatividade e individualismo, que é apenas outra forma de gozo. Aliás, se a história está correta ao demonstrar que todos os grandes contribuidores para melhoras no planeta foram, em algum ponto, ridicularizados e, algumas vezes, encarcerados e torturados, pense que o ridículo deveria sim ser usado como medalha de honra.
E se falhar?
O velho e bom Thomas Edson achou mais ou menos 10.000 maneiras de como a lâmpada não funciona. Falhas ao longo do caminho devem ser esperadas e aceitas, pois são ferramentas do aprendizado. Falhar é muito melhor do que a inação. Os que nunca falham, não só são basicamente inúteis para a humanidade, mas são também incapazes de desfrutar da sensação de realização que vem depois de uma longa luta.
Resumindo tudo, o que basicamente destrói o pensamento criativo é:
Preconceito
Fixação Funcional/Estereótipos (quando enxergamos algo pelo nome que tem, ao invés de em termos do que pode fazer: por exemplo, uma mesa é uma mesa, é uma mesa. É fixação funcional quando não posso mais sentar em cima da mesa, porque a gente só senta em cadeira)
Impotência aprendida (é a sensação de não ter o conhecimento, materiais, habilidade, ou qualquer coisa suficientes para fazer alguma coisa, e daí nem tenta)
Bloqueios Psicológicos (está ligado com preconceito, por exemplo, quando se diz que não se come comida japonesa, porque não se gosta de peixe cru, sem nunca ter experimentado, desconsiderando que há muito mais coisas na culinária daquele país além do sushimi)
E o que faz o mundo girar, além do Money, como brilhantemente cantado por Liza Minelli em Cabaret (clique aqui), são a curiosidade, os desafios, o descontentamento construtivo (contrário de queixa), a crença de que, fora a morte, no resto se pode dar jeito, a habilidade de suspender, pelo tempo necessário, a crítica e o julgamento negativos, o conseguir ver a parte boa da coisa, mesmo num momento ruim, e finalmente, acreditar que não só problemas podem ser resolvidos, como são a melhor oportunidade para crescimento e aprendizado, e que possuímos todas as habilidades necessárias para impedir que o problema se torne uma catástrofe.
E, para terminar, a soma numa música : clique aqui
Próximo blog, Psicologia Positiva.
NA
Donald Woods Winnicott (7 Abril1896–28 Janeiro1971): Inglês, pediatra e psicanalista. Conhecido principalmente por suas ideias sobre “Mãe suficientemente boa”, “Objeto Transicional” e “Verdadeiro e Falso Self”, embora, em minha opinião, o tratamento e prevenção em psicopatias que desenvolveu durante a Segunda Guerra é obra de gênio.
Martin E. P. "Marty" Seligman (12 Agosto 1942): Americano, psicólogo, educador , autor e criador da Teoria da Impotência Apreendida. É professor de psicologia na Universidade da Pensilvânia.
Publius Vergilius Maro (15 Otubro 70 AC – 21 Setembro 19 AC): poeta romano
Sara Mednick, PhD, professora assistente de Psiquiatria na Universidade da Califórnia, em San Diego.
Thomas Alva Edison (11 Fevereiro1847 – 18 Outubro 1931): inventor, dentre outras coisas do fonógrafo, da câmara para cinema e da lâmpada. É considerado o inventor mais prolífico da história, com 1093 patentes em seu nome.
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