CRENÇAS, COMPORTAMENTOS E CONSEQUÊNCIAS I


Ao abrir o computador hoje,e ver que o filme “Instinto Fatal”está fazendo aniversário de 25 anos, fiquei tentadíssima a falar sobre a velha e boa histeria.

Só não o fiz pelo fato que falar sobre as crenças foi a promessa que fiz no último post, além do fato do artigo estar prontinho para consumo.

Mas com certeza, esse aniversário não passará em branco.

Então, vamos ao que interessa nesse momento.

Comecemos por definir as 4 palavrinhas:


CRENÇAS:a) um estado de espírito ou hábito no qual a confiança é colocada em alguma pessoa ou coisa; b) convicção da verdade de alguma declaração, de algum ser ou fenômeno.
O antônimo é DÚVIDA

COMPORTAMENTO: a) a forma como uma pessoa se conduz; b) a resposta ao ambiente, de um indivíduo ou grupo; c) qualquer coisa que um organismo faça, envolvendo ação e sua resposta a estímulos.
Os antônimos são PENSAMENTO e INAÇÃO.


CONSEQUÊNCIA: a) conclusão derivada da lógica (também chamada de inferência); b) algo produzido por uma causa ou necessariamente na sequência de uma série de condições.
Os antônimos são ANTECEDENTE, NEXO, CAUSA, RAZÃO, OCASIÃO.

FATO: a) informação apresentada como tendo realidade objetiva; b) a qualidade de ser real; c) algo que tem existência real.
Os antônimos são IRREALIDADE e CRENÇA
(Todas as definições e antônimos vêm do dicionário Merriam-Webster)

Ao contrário da mui difundida crença de que colecionamos informações do mundo exterior para formarmos novas crenças,a realidade é que só prestamos atenção nas informações que suportam nossas crenças pré existentes.

Assim, se acredito que meu namorado é absolutamente fantástico, sem falhas, incrível,só vou prestar atenção nos comportamentos dele que estimulem essa minha crença,ignorando qualquer informação do contrário.

Usualmente é o que nos leva, após o casamento,a nos “decepcionarmos” com a criatura, chorando em cima das “horríveis mudanças“ que aconteceram com o cidadão em questão, quando a única coisa que aconteceu foi que, em se arrefecendo a paixão e em vivendo juntos, fica extremamente difícil achar que uma cueca largada no meio da sala é um ato “fantástico”.

Tentamos, e tentamos muito, manter nossas crenças, apesar de tudo, e crescimento implica em sofrer “choques de realidade”, superá-los e abrir nosso leque de experiências e percepções.

Aliás, como já disse velho Freud, “A mudança, qualquer mudança, só pode ocorrer quando a dor do viver supera a dor de mudar”.

É assim que nossas crenças moldam nossa realidade.

Se uma pessoa acha que nunca vai encontrar emprego (crença), não vai se motivar a se preparar para o mercado de trabalho (mudança de comportamento), e, mais tarde, quando tentar encontrar um trabalho, falhará (e aí a crença vira verdade).

Nossas crenças funcionam como “filtros” para a informação.

“Filtramos” as informações que recebemos baseados em nossas crenças, e absorvemos apenas aquilo que coincide com o nosso sistema de crenças.

Isso afeta o nosso comportamento, pois , vendo apenas aquilo em que acreditamos, não consideramos qualquer outra evidência que possa ser fornecida.

Exemplos disso são bem visíveis em campanhas eleitorais.

Se sou PT, vou tentar achar alguma lógica (desculpa) para a coligação de Lula e Maluf. Se sou tucano, vou achar legal o Serra se candidatar a tudo que é coisa. Se sou evangélica, vou votar em qualquer coisa que seja contra os gays (e até hoje custo a entender o porque de tanto ódio contra as criaturas).

O problema todo está em que FATOS não alteram CRENÇAS, e as crenças que temos a nosso próprio respeito, a respeito da vida em geral, a respeito dos outros humanos que coabitam este planeta, são responsáveis pelo que somos, como nos comportamos e no que nos tornamos.


O processo de formação da crença é iniciado quando uma sementinha é plantada em nossa mente. Pode ser uma observação feita por uma pessoa com autoridade (pais e familiares), um conselho dado por um amigo próximo, ou até mesmo uma frase que se ouviu de um estranho:

“Joãozinho é tão bonzinho! Pena que seja meio lento de raciocínio”
“Mariazinha é tão linda! Não vai precisar de mais nada na vida”
“O vestibular pra medicina é dificílimo”
“A economia está impossível!”
“Esse menino não vai dar nada na vida”
“Esse cara é um vencedor”

Estes são exemplos de sementes, e mais não ponho por falta de espaço, mas, se pensarmos no que ouvimos, e, de preferência, no que ouvimos repetidamente, podemos ter uma boa ideia de quais são nossas crenças mais arraigadas.

Todas as vezes que uma informação “tropeçar” na semente, ainda podemos escolher se queremos ou não, pois a crença ainda não está de todo formada, mas, o que costumeiramente ocorre, simplesmente por uma questão de economia de energia, é que deixamos que as informações que melhor irrigam nossa semente sejam introduzidas e, como consequência, em pouco tempo temos sólida crença.

Quanto mais “indícios” recolhemos, mais forte se torna nossa crença, até atingir um ponto em que acreditamos que aquilo é fato e não pode ser mudado.

Lembro-me de que, há muitas luas atrás, quando Lula e Collor disputaram a presidência, a Globo inventou para o Collor o epíteto de “caçador de marajás”, e, embora nunca um “marajá” tenha sido citado como caçado, esse pequeno fato não alterou em nada a percepção da criatura. Desnecessário se faz aqui lembrar das consequências.

Numa nota mais pessoal, lembro-me de meus queixumes a meu avô, durante minha triste e desengonçada adolescência, quando ele me disse: “Patrizia, quem não te quer, não te merece”. Achei aquilo o máximo, e guardo comigo como um tesouro, agindo em consequência.

Uma dica básica: para sabermos o que é fato e o que é crença, é só prestar atenção nos adjetivos.

Assim, se mostro a mesa da minha sala de jantar e digo “isto é uma mesa”, estarei enunciando um fato, mas se digo “esta é a mesa mais bonita que já vi na vida”, o fato desaparece e estarei mostrando meu bom gosto ou falta do mesmo, a depender de quem me ouve ou vê a já citada mesa.

No próximo post, veremos a interrelação entre acontecimentos, crenças, comportamentos e consequências.

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