PRESTA ATENÇÃO!

Quem nunca ouviu isso, levanta a mão e ganha um pirulito.

Atenção é uma complicação.

Mães berram a frase acima quando querem que façamos algo no qual não estamos interessados, namorados fazem o mesmo quando estão furiosos uns com os outros, e no geral, a maioria de nós relaciona a coisa a decorar textos na faculdade.

Em neurologia, atenção é definida como um processo cognitivo multidimensional e como o primeiro passo no processo de aprendizagem.

É o que nos permite planejar e é o que acaba controlando nossos pensamentos e ações.

Todos os últimos estudos em ciências neurológicas apontam para o fato de que, aquilo em que prestamos atenção. define quem somos.

Atenção exclusiva é também o primeiro e mais fundamental ingrediente em qualquer relacionamento.

Qualquer vínculo, é impossível de ser formado com alguém que não pode ou não quer se concentrar em você.

Aquilo no que focamos nossa atenção, passa a controlar nossos pensamentos e ações, isto é, nossa vida.

Tudo aquilo no que nos concentramos, "acende"nossos neurônios. Por exemplo, pessoas pessimistas vêem contratempos como coisas "pessoais", "generalizadas"e "permanentes" (Otimismo Aprendido-Seligman), isto é, sempre que algo menos do que perfeito acontecer, essas pessoas o verão como algo que, só acontece com eles, complica todas as partes de sua vida, e dura para sempre.
É seu "filtro de atenção"que só deixa passar o que eles esperam que aconteça, isto é, algo negativo.

Para exemplificar, vou contar uma piada do Juca Chaves, que ouvi no milênio passado, mas continua atual:

"Um pai tinha dois filhos. Um otimista, outro pessimista.
 No Natal, citado pai resolveu que ia mudar a visão de mundo dos filhos, e para o pessimista comprou uma bicicleta vermelha, dez marchas, linda. Para o otimista, um balde de cocô de cavalo.
Quando o pessimista viu a bicicletinha, desesperou-se: agora sim, dizia ele, tenho problemas, pois todas as crianças da vizinhança vão querer minha bicicleta e vão bater em mim e serei odiado por todos! Nisso entra correndo o otimista, com seu balde, berrando : cadê meu cavalo? cadê meu cavalo?"

Como a atenção molda o cérebro, se "aprendemos"a ser pessimistas, podemos reaprender a ser otimistas (Rick Hansom-O Cérebro de Buda).

Pelo fato da atenção estar tão profundamente "tatuada"em nosso cérebro, às vezes fica difícil reconhecer nossos próprios padrões, os quais absorvemos desde o nascimento, embora culturas diferentes tenham diferentes padrões de atenção.

Um psicólogo mostrou uma cena aquática para dois grupos de estudantes, americanos e asiáticos. Os americanos comentaram a respeito de peixões nadando entre peixinhos, enquanto os asiáticos comentaram a respeito de tudo o que estava acontecendo lá, incluindo a posição das pedras e a dança das algas.
A conclusão foi que, os de cultura oriental prestam mais atenção nas relações entre as coisas, enquanto os ocidentais tendem a ver coisas isoladas e não as relações entre elas. ( Richard Nisbet- The geogrphy of Tought).

Num outro estudo, foram mostradas 3 fotos para crianças americanas e chinesas.As fotos eram: vaca, galinhas e capim. Foi pedido às crianças que juntassem as fotos de maneira que para elas fizesse sentido. Os americaninhos colocaram junto vaca e galinhas, pois são animais, enquanto os cinhesinhos juntaram vaca e capim, pois vaca come capim, ou seja, focaram a atenção na relação entre as coisas e não nas coisas em si. (John Hagel).

Fica óbvio que, seja lá no que você presta atenção, tem tremendo efeito na maneira como  vê e sente o mundo e, a melhor forma de perceber nossos própios padrões de atenção é aprendendo e/ou observando os padrões de alguém mais.

Pais, professores, líderes, são exemplos que seguimos, e qualquer coisa no que se presta atenção, não só controla nosso cérebro, como também determina o que passaremos para frente como nossos exemplos. Como todo mundo sabe, palavras o vento leva, mas nosso comportamento fica.

Atenção é um recurso escasso, e só podemos alocá-lo de forma inteligente, se soubermos onde o estamos gastando.

Executivos na Disneylândia queriam saber o que mais atraia a atenção de crianças pequenas, tanto no parque quanto nos hotéis, de formas que contrataram antropólogos culturais para observá-las em todas as situações, desde encontros com os personagens até as comidas.
Depois de horas de observação, a conclusão foi que, o que mais chamava a atenção dessas crianças, não era a mágica da Disney, mas os telefones celulares dos pais, principalmente quando estes estavam sendo usados.
As crianças entenderam perfeitamente o que prendia a atenção dos pais- os celulares eram os centros de ação de seu mundo: quando os pais os estavam usando, não estavam prestando total atenção nos filhos. (Kate Anderson)

Provavelmente esses pais achavam que estavam focando toda atenção tanto em suas crianças quanto nas atrações. Agora, o comportamento das crianças mostrou claramente onde esses pais focavam sua atenção, que era em seus celulares, e possívelmente a maioria de nós é da mesma forma culpada de irritar pessoas a nosso redor, vez ou outra, como por exemplo o chefe quando nos pega mandando e-mails pessoais durante reunião importante, ou conjuge quando passamos mensagens de texto durante o jantar.

Então vamos lá. Para aprender sobre nossa atenção, examinemos a de outrém.

A maioria dos terapeutas e escritores motivacionais e de autoajuda nos encoraja a concentrar no "EU", sugerindo que olhemos para dentro para nos entendermos, melhorarmos e daí vivermos melhor e mais felizes.
Isto não está errado, só incompleto.

Ao inves de apenas nos perguntarmos sobre nossas preocupações, o que nos agrada ou desagrada, a melhor coisa a fazer é nos achegarmos a outra pessoa e escutar o que ela tem a dizer. Vamos lá e vamos tentar ser o melhor ouvinte que a criatura teve em anos.

Este é o primeiro e mais básico ingrediente em qualquer interação.

O simples ato de olhar uma pessoa com jeito firme e empático, o demonstrar que estamos ouvindo e não julgando, dispara uma resposta neuronal em ambos chamada de "respostas de espelhamento".

Dar e receber atenção total, mesmo que brevemente, é o mínimo ( e às vezes o máximo) que podemos fazer uns pelos outros.

O mais interessante é que dar atenção a alguém, não ajuda apenas a pessoa que está recebendo, mas também a que está dando.

Prestar atenção pode ser um esfôrço individual, mas é também o tipo de cimento social que mantém grupos unidos, fazendo com que nos sintamos parte de algo maior do que nós mesmos.

Nem sempre é fácil, mas melhora com a prática. Aí sim, vamos nos tornar mais flexíveis, mais abertos a idéias novas e diferentes, e mais capazes de interagir com outros, o que, inevitavelmente leva a uma vida mais feliz e cheia de significado.


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