NÓS ESSES ATRAPALHADOS III: Estatísticas e História
As estatísticas são
assustadoras:
Portadores de TDAH têm
400% mais lesões causadas por acidentes, 300% mais violações do transito, risco
de uso de drogas aumentado em 47%, a chance de terem doenças sexualmente transmissíveis
aumentada em 57%%, a chance de ter filhos durante adolescência é 45% maior e
tem 39% a mais de chances de serem presos do que a população em geral.
Se isso não fosse
sério o suficiente, ainda tem que lidar com mitos tais como:
- Esse distúrbio não existe, é só uma desculpa para falta de educação
- São mimados demais e só precisam de disciplina
- A coisa passa depois da adolescência
- TDAH é ultra diagnosticada e excessivamente tratada
- Pais e professores só querem medicar as crianças porque assim não causam problemas
- Os remédios viciam, são muito perigosos e prejudicam o crescimento.
- Só dá em meninos.
- Os pais não sabem educar.
Pessoalmente, gosto
muito de mitos, quando aplicados a civilizações antigas, e que de certa forma
explicam o cerne das crenças de uma determinada cultura, mas quando são
aplicados a doenças, a coisa complica. E complica muito, porque impedem
pessoas, quando tratadas, de alcançarem o que é o objetivo de todos nós – ter
uma vida feliz e produtiva.
Peguemos por exemplo,
o mito da culpa dos pais. Nada poderia ser mais falso. Está claro que falta de
educação ou falta de família que eduque, piora qualquer coisa.
PIORA, NÃO
CAUSA.
O TDAH é genético, e,
como tudo que é genético, não desaparece com o tempo, não melhora com a idade, tanto
que as características básicas, problemas e tratamentos são muito parecidos
para crianças e para adultos.
Claro está que todos
nós desenvolvemos as habilidades de prestar mais atenção e controlar nossos
impulsos na medida em que crescemos, mas isso não quer dizer que os portadores
de TDAH, que necessitam de medicação, podem parar só porque envelheceram.
Infelizmente, envelhecer é um dos maiores estressores conhecidos, e como também
se sabe, estresse avacalha tudo, incluindo TDAH.
A primeira descrição
clinica de TDAH foi feita em 1902, pelo medico inglês Dr.George Still, na
revista Lancet, a respeito de crianças extremamente impulsivas.
Em 1930, o
Dr.Charles Bradley, nos EUA, fez as primeiras observações a respeito do uso de
estimulantes para tratamento do problema.
Desde então, os termos
descritivos usados refletiram o conhecimento de biologia e genética da época em
questão. Nos anos 60, a ênfase foi a hiperatividade, sendo o garoto personagem
Pimentinha (Denis o travesso) sua epítome.
Um desenvolvimento
importante ocorreu no início dos anos 70, quando a pesquisadora canadense, Dra.
Virginia Douglas, começou a se concentrar na impulsividade cognitiva (devaneios
ou sonhar acordado) e na falta de foco, características comuns da TDAH.
Assim, a descrição mudou
e passou a incluir a atenção (devaneios) e a hiperatividade, (motora e verbal),
e que é como entendemos o problema hoje em dia.
Estudos de
prevalência mostram que o problema aparece em 3 a 5% da população, sendo,
portanto, muito mais comum que Depressão, Transtorno Bipolar, Esquizofrenia,
Transtorno do Pânico e Transtorno Obsessivo Compulsivo juntos.
Nos últimos 10 anos,
com o advento da ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons,
acabamos por entender mais do assunto que durante todos os anos, desde que foi
descrito em 1902, pois esses exames nos permitem ver muito da anatomia funcional
do cérebro, coisa antes impossível, e, apesar disso, 3 em 4 portadores
continuam sem ser diagnosticados.
Tomografia por emissão de pósitrons.E-cérebro sem TDAH. | Lado D com TDAH.(Neurobiology of ADHD-ADHD.org |
Isso me faz pensar
que, como disse bem Campbell, mitos são mais poderosos que a realidade.
No próximo capitulo,
veremos como é feito o diagnóstico e quais são os possíveis tratamentos.
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