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DEPENDÊNCIAS, DEFINIÇÕES E TRATAMENTOS

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O problema com as dependências, já começa com sua definição, porque há varias, a grande maioria delas dependendo muito mais de crenças pessoais e coletivas sobre o assunto do que seguindo método cientifico. Vejamos: O Dicionário Oxford, mostra a primeira variação da palavra "vício", aparecendo em 1500. O termo vem do “latim addictus” , que, em Roma significava ser obrigado por um juiz,a se tornar um servo ou escravo, geralmente por causa de dívidas. Era apenas um adjetivo. Depois, virou verbo, e o “se viciar”passou a significar o "ligar-se ou apegar-se” a uma pessoa, partido, ou causa, como um servo, aderente, ou discípulo, voluntáriamente. Foi só lá para 1700 que o têrmo “dependência passou a se tornar específico para substâncias. E, no século 20, o têrmo foi restrito para uso de narcóticos, específicamente a heroína. Agora, o têrmo está mais espalhado do que nunca, saindo do domínio das substâncias assim chamadas “adictivas”ou que, de per si causam dependências,...

COMO FOI QUE A “GUERRA ÀS DROGAS” COMEÇOU: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

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Para que possamos entender o que estamos e porque estamos vivenciando hoje, é importante entender como foi que a coisa toda começou, assim, trago um resumo/tradução do livro “Chasing the scream: The first and last days of the war on drugs” Johann Hari, Bloomsbury, 2015 (Perseguindo o grito:Os primeiros e últimos dias da Guerra às Drogas – tradução minha, ao pé da letra, já que não sei o título em português) “A promessa de travar uma "guerra implacável" contra as drogas foi feita pela primeira vez em 1930, por um homem esquecido hoje, mas que fez mais do que qualquer um para criar o mundo da droga em que vivemos agora. Seu nome: Harry Anslinger. Em 1904, um menino de doze anos de idade, na Pensilvânia, visitando a fazenda de um vizinho, ouviu gritos lancinantes, uma mulher uivando como um animal. O marido da mesma, deu instruções apressadas ao menino: pegue meu cavalo e vá à cidade o mais depressa possível. Pegue um pacote na farmácia. Traga o pacote aqui. Já. O garoto, ap...

MINHA PRÓPRIA VIDA: OLIVER SACKS AO SABER QUE ESTÁ COM CÂNCER TERMINAL

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Sei que prometi a segunda parte das dependências e estava justamente terminando,quando me chegou o e mail do New York Times, com o artigo do Sacks.E chegou num momento em que pensava em minha própria mortalidade. Ele está na minha lista de gente que quero conhecer pessoalmente antes de morrer. Pelo visto, não vou conseguir. Ele me fez rir e chorar com seus escritos, e no filme “Tempo de Despertar”, me mostrou que genialidade é muito mais do que descobrir um tratamento novo. É descobrir a vida, junto com o paciente. E então, tenho que traduzir o artigo, porque é mais uma lição de vida desse homem que é grande. Não vou dizer adeus porque mesmo quando ele morrer, vai continuar tão vivo dentro de mim, que vou poder continuar nossas conversas imaginarias a gosto. Esta tradução é meu agradecimento e celebração de uma vida que foi, e continua sendo bem vivida. “Um mês atrás, senti que estava bem de saúde, até mesmo robusto. Aos 81 anos, ainda nado uma milha por dia. Mas minha sorte acabo...

O OPOSTO DE DROGADEPENDÊNCIA NÃO É SOBRIEDADE.

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Este ano faz 100 anos desde que as drogas (algumas) foram oficialmente banidas e vimos o desenvolvimento de teorias e práticas de todos os tipos, para se lidar com o problema. Os USA instituiu a “guerra às drogas” e aprendemos ou ouvimos histórias sobre dependências e dependentes, a dependência como doença e os milhares de tratamentos e/ou intervenções que parecem crescer como fungos por toda a parte. Tendo passado a maior parte de minha vida profissional trabalhando exatamente na área, aprendi umas coisas e tive que desaprender outras tantas. Algumas das coisas que me incomodavam profundamente no discurso do “nós bonzinhos que lutamos contra as drogas”,foram: 1-Nunca me senti lutando ou quis lutar contra drogas, pelos seguintes motivos: a)Como médica, uso “drogas”, que em medicina são chamadas de medicamentos, para aliviar sintomas e promover tratamentos. De que maneira vou querer um mundo sem drogas? Quero sentir a dor de ser cortada feito galinha assada quando e se necessitar de ...

EM DEFESA DA LERDEZA

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Estava aqui tendo um ataque de saudades de Carminha, minha secretária por tanto tempo que não precisa ser contado, e do mundo que costumava conhecer. O ataque deveu-se a um momento no qual me dei conta que estava perfeitamente enlouquecida, pois, domingo de manhã, teóricamente dia universal, pelo menos para mim, de folga de qualquer ligação trabalho/foco/organização, me vi, com um pé, fazendo cosquinhas em minha cachorrinha, o outro fazendo força numa especie de pedal, que faz parte da fisioterapia, uma mão segurando o celular e a outra digitando, mandando e mail, textando, organizando artigos, selecionando rotas alternativas na estrada, fazendo lista de supermercado. E só me dei conta da insanidade, porque súbitamente a cachorra ganiu, o celular saiu voando de minha mão, e dei um chute no pedal. Que qui é isso, companheira? Sentada no chão, acalmando a ganinte enfurecida canina, comecei a pensar sobre o que, sub repticiamente, estava me acontecendo. Primeiro, que detesto celular...

EM DEFESA DO ESCULACHO

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“Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem” . Erasmo de Rotterdam E lá se foi uma semana da tragédia em Paris. Saldo: 22 mortos (12 do Charles, 3 policiais, 4 pobres coitados que, pecado dos pecados, faziam compras num mercado, os 2 atiradores da revista e um assecla.). Concomitantemente, em Baga, na Nigéria, o Boko Haram, grupo islâmico extremista, fuzilou cerca de 2000 pessoas, em sua maioria velhos, mulheres e crianças, que “não conseguiram correr a tempo” (http://jezebel.com/boko-haram-massacre-kills-up-to-2-000-mostly-women-ch-1678541680 ), e uma menina de 10 anos, embrulhada em explosivos, foi explodida num mercado em Maiduguri, também na Nigéria, matando uns 20 e ferindo cerca de 50. E, cerejinha no bolo, a fantástica demonstração de “Je suis Charlie”, nas ruas de Paris, em nome da liberdade de expressão, tendo à frente os seguintes campeões da anteriormente citada: Presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, onde aconteceu o maior númer...