ESTUPIDEZ É O OUTRO NOME DO NARCISISMO

"Estupidez é usar uma regra na qual, a adição de mais dados não aumenta suas chances de acertar [um problema]. De fato, aumenta a probabilidade de errar. "David Krakauer, biologo evolucionario.

“A estupidez é caracterizada pelo causar prejuízos a outra pessoa ou grupo, ao mesmo tempo em que não obtém ganho e, possivelmente, pode causar perdas a si mesmo” Carlo M. Cipolla, professor de economia historica na UC Berkeley.

“Algumas das características que conduzem à estupidez: excesso de confiança, ignorância, distração, impraticabilidade e incapacidade de controlar as próprias ações”. Aczel, Bence Palfi, and Zoltan Kekecs, pesquizadores

Note que nenhuma dessas descrições de estupidez se refere simplesmente a falta de conhecimento. A falta de informações sobre um tópico não torna ninguém estúpido, pois sempre podemos aprender a respeito
Pelo contrário, a estupidez é uma escolha. Se alguém optar por agir sem levar em conta todas as evidências disponíveis, isso é estupidez, o que nos leva ao narcisismo.

Costuma-se achar que estupidez é falta de inteligência, o que é incorreto, pois a mesma é um comportamento que demonstra falta de bom senso ou julgamento. Para entender sua ligação com o narcisismo, é importante conhecer o mito de Narciso, o mais conhecido da mitologia grega. Tão famoso que se tornou uma palavra de uso comum para indicar uma característica específica de uma pessoa: o amor ilimitado por si mesmo, causado por uma total ignorância a respeito de si própio e do mundo que o cerca.
Tal mito, conta a história de um belo jovem que perde a vida porque se apaixona loucamente pelo seu reflexo. Existem muitas versões do mito e a fonte mais autoritária é Ovídio (Metamorfoses).

“Extasiado diante de si mesmo, sem mover-se do lugar... o rosto fixo, absorvido com este espetáculo, ele parece uma estátua de mármore. Deitado no solo, contemplando dois astros, que são os seus próprios olhos, contempla seus cabelos, sua face, seu pescoço de marfim, sua boca encantadora e a brancura de sua pele. Admira tudo aquilo que suscita sua própria admiração. Em sua ingenuidade, deseja a si mesmo. A si mesmo dedica seus próprios louvores. Ele mesmo inspira os ardores que sente. Ele é o elemento do fogo que ele próprio acende. E quantas vezes dirigiu beijos vãos à onda enganadora! Quantas vezes, para segurar seu pescoço ali refletido, inutilmente mergulhou os braços no meio das águas.Não sabe o que esta vendo, mas o que vê extasia-o, e o mesmo erro que lhe engana os olhos, acende-lhe a cobiça. Crédula criança, de que servem estes vãos esforços para possuir uma aparência fugidia? O objeto de teu desejo não existe. O objeto de teu amor, vira-te e o farás desaparecer. Esta sombra que vês, é um reflexo da tua imagem. Não é nada em si mesma; foi contigo que ela apareceu, e persiste, e tua partida a dissipará, se tivesses a coragem de partir."
Metamorfoses (Origem de Narciso), Ovídio (43 A.C.- 18 D.C.) Do artigo: “Drogadependência e Narcisimo”, Streparava,P 


Narciso é o filho do Cefiso, uma divindade do rio, e Liriope, uma ninfa. A mãe dele ficou muito preocupada por dar a luz a tão linda criança e foi até o oráculo de Tiresias, que a aconselhou a nunca deixá-lo se conhecer. A criança cresceu e se tornou um lindissimo adolescente, pela qual todos se apaixonavam. Narciso, no entanto, rejeitou a tudo e a todos.
Eco, uma ninfa que não podia falar porque punida por Juno, apaixonou-se loucamente por ele. No entanto, ela não podia se declarar porque, com a voz, só podia ecoar a de Narciso, que a recusou abruptamente. A menina passou assim o resto de sua vida vagando pelos vales, até que se tornou apenas uma voz.
A deusa da vingança, Nêmesis, decidiu punir o jovem Narciso por sua rejeição da ninfa. Então, ela o condenou a olhar para si mesmo em uma lagoa quando fosse beber. Quando ele se abaixou para beber, viu seu reflexo e por este se apaixonou loucamente.

Ovídio afirma que Narciso morreu consumido pelo fogo daquele amor inatingível. Outras fontes relatam que ele se jogou no rio, na tentativa extrema de alcançar o amor. Qualquer que seja a versão escolhida, o ponto é que ele morreu porque, por não conhecer a si mesmo, foi enganado pelo reflexo de sua imagem, e sua ignorância dirigiu todas as suas ações tolas e sem sentido.

Isto também explica o famoso aforismo, "conhece-te a ti mesmo", inscrito no frontispicio do templo de Apolo em Delfos e amplamente usado desde Ésquilo, Sócrates, Platão, Abelardo, Thomas Hobbes, Alexandre Pope, Benjamin Franklin, Emerson, Freud e todos mais de permeio.

Pronto, claro como o dia. A paixão nem foi por si mesmo, mas pelo seu reflexo, daí a estupidez. Será que durante toda vida nunca tinha se baixado para beber água? Provavelmente, mais do que uma vez, só que não prestou atenção, não computou. O mesmo para outras interações, quer com seu meio ambiente, quer com os outros seres que o populavam.

O mito de Narciso casa direitinho com a história de Édipo, nome que, em grego, significa “pés tortos”ou “pés inchados”. Rápido resumo:

Segundo uma das versões, Laius, rei de Tebas, foi avisado por um oráculo de que seu filho o mataria. Assim, quando sua esposa, Jocasta deu a luz  a um filho, ele chamou um caçador e o mandou levar a criança para a floresta e matá-la (deve ter sido o mesmo caçador da Branca de Neve), o qual, morto de pena do pobre bebê, não encontrou nada melhor para fazer do que, ao invéz de matá-lo, prega-lo pelos pés numa árvore, daí os pés inchados ou tortos. Um pastor teve pena do bebê, que foi adotado pelo rei Polibus de Corinto e sua esposa, sendo criado como filho deles. No início da idade adulta, Édipo visitou Delfos e, ao saber que estava destinado a matar seu pai e se casar com sua mãe, resolveu nunca mais voltar a Corinto, ao invés de simplesmente perguntar aos pais que raios de história era aquela, e porque seus pés eram todos tortos. Viajando em direção a Tebas, encontrou Laius, se meteu num pampeiro e matou seu pai. Como se fosse coisa de acontecimento diário, não lhe deu muita importância e continuou pelo seu caminho.Chegou a Tebas, que estava sendo atormentada pela Esfinge, a qual propunha um enigma a todos os transeuntes, matando os que não sabiam responder. Édipo resolveu o enigma, e a Esfinge se matou. Como recompensa, recebeu o trono de Tebas e a mão da rainha viúva, sua mãe, Jocasta, e tiveram quatro filhos: Eteocles, Polyneices, Antigone e Ismene. Mais tarde, quando a verdade se tornou conhecida, Jocasta cometeu suicídio e Édipo, depois de se cegar (como se, além de tonto ficar cego fosse resolver alguma coisa), foi para o exílio, acompanhado por Antígona e Ismene, deixando seu cunhado Creonte como regente. Édipo morreu em Colonus, perto de Atenas, onde foi tragado pela terra e se tornou um herói guardião da mesma.

Sigmund Freud escolheu o termo “complexo de Édipo” para designar o sentimento de amor de um filho por sua mãe e de ciúmes e ódio por seu pai, embora isso não tivesse nada a ver com o que motivou as as ações do Édipo original ou que determinaram seu caráter em qualquer versão antiga da história.

Resumindo: Estupidez e Narcisismo não só andam de mãos dadas, mas um não exisiste sem o outro.

“Diana, você é a encarnação da TV, indiferente ao sofrimento, insensível à alegria. Para você, a vida se reduz a um entulho de banalidades”. (Network, o filme)

Vale a pena, para entender, dar uma olhada no seguinte:

Prayers for Bobby (não sei qual foi a traduçao para o Português), filme que é a adaptação da vida real de Mary Griffith, que virou uma batalhadora pelos direitos dos gays, mas só depois que o filho adolescente cometeu suicidio devido `a sua intolerância religiosa. E isso é uma das caracteristicas do narcisismo: só dar importância a algo se esse algo acontecer em seu ambito relacional.

“The Culture of Narcissism: American Life in an Age of Diminishing Expectations” (A Cultura do Narcisismo: A Vida Americana numa Era de Expectativas Diminuídas), de Christopher Lasch, que explora as raízes e ramificações da normalização do narcisismo patológico na cultura americana do séc.XX. Sua tese é que, nos anos 70, os americanos haviam desenvolvido uma forma de narcisismo, que fazia com que a maioria das pessoas necessitasse de constante validação externa para se sentirem vivas, resultando numa “interminável busca de crescimento pessoal, que é, ao mesmo tempo, ilusória e cada vez mais infrutífera”.

A cultura do narcisismo e a banalização da vida

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