DE COMO O “MULTITASKING” ESTÁ DESTRUINDO SEU CÉREBRO E SUA CRIATIVIDADE
Embora
o têrmo “multitasking” (fazer um monte de coisas ao mesmo tempo), tenha sido
inventado para computadores, lá pelo ano de 1966, tornou-se a “coisa certa a
fazer”, para os que queriam parecer importantes e ocupados, nos anos 80, que
também cunharam o têrmo “yuppie” ( pessoa jovem, com
emprego bem remunerado e estilo de vida elegante. Lembro que as pessoas não
faziam coisas, elas “aconteciam”). Também foi o estouro do consumo de cocaina.
Pois na época eu era
jovem, em início de carreira, o que impedia assaz o tal estilo de vida elegante
e o acontecer, além de morrer de medo da cocaina, pensando cá com meus botões
que, em conhecendo os efeitos da mesma, de euforia e sensação de superioridade
que a coisa dá, vai que eu gostasse não é? Mas o multitasking me parecia
fenomenal, e eu invejava enormemente esses seres superiores que passavam pela
vida fazendo mil coisas ao mesmo tempo, enquanto eu, lerda, nem fazer faxina e
cantar ao mesmo tempo, já que consegui quebrar um dedo do pé na tentativa.
Lá pelos anos 90, mais
escolada em neurologia, finalmente entendi a falácia da coisa, mas aí, o
conceito já estava enraizado, principalmente no grupo de recursos humanos, que
eram os que determinavam empregos e colocações.
Ao chegar aqui, e ter
que procurar emprego, deparei-me com uma coisa nova, chamada “resumè”. Ora, o
que sempre fiz foi Curriculum, coisa mais simples do mundo, de colocar em ordem
decrescente suas credencias acadêmicas e de trabalho. Não senhores. Resumè é
uma coisa esquisita na qual você explica para o futuro empregador que ele/
empresa não sobreviverão um segundo a mais se não usarem suas fantásticas
competências. Pois lá fui eu aprender como fazer um. No processo, aprendi que
havia palavras chaves a serem usadas, tipo “jogo em equipe”, disponibilidade de
aprendizado”, e a tal capacidade de “multitasking”. Num dos artigos, descobri
que deveria “escrever um resumé que chamasse atenção da pessoa do RH em 3 segundos”,
já que, ocupadissimos que são, não podem perder mais do que esse tempo com cada
resumé que recebessem. Pois me rebelei. Não é responsabilidade minha a falta de
atenção deles.
Vai daí que,
humildemente, pedi a marido para escrever o meu, a partir do meu CV, já
traduzido para a lingua de Sheakspeare avacalhada que se fala por aqui. E devo
dizer que o fez com maestria, já que na primeira aplicação, também ganhei o
emprego, além de, na primeira entrevista fazer um discurso inflamado sobre a
falácia do multitasking e funções cerebrais.
E lá se foram uns 20
anos de mais falácias sobre o assunto, até que finalmente, a verdade aparece.
Pois bem, não dá para desfazer os maleficios de pelo menos 30 anos de bobagens,
mas pode-se evitar futuras. Então, aqui vai um resumo dos malefícios do tal
multitasking.
1-. MULTITASKING PODE
LEVAR A DANOS PERMANENTES NO CÉREBRO
Um estudo da
Universidade de Sussex (Reino Unido) comparou a estrutura cerebral
dos
participantes com a quantidade de tempo que eles gastaram em dispositivos de
mídia, ou seja, mensagens de texto ou assistindo TV.
Os exames de ressonância
magnética dos participantes mostraram que os que mais multitaskeavam tinham
menos densidade cerebral no córtex cingulado anterior, região do cérebro
responsável pela empatia e controle emocional.
A implicação de suas
descobertas é que o multitasking, especialmente envolvendo o uso de
dispositivos de mídia, pode alterar permanentemente a estrutura do cérebro após
longo período de uso.
2-MULTITASKING REDUZ EFICIÊNCIA E
DESEMPENHO MENTAL
Earl Miller, neurocientista
do MIT e um dos maiores especialistas do mundo em cognição humana, atenção e
aprendizado, explica: “quando alternamos entre tarefas, o processo geralmente
parece transparente mas, na realidade, requer uma série de pequenas mudanças.
Cada pequeno turno leva a um custo cognitivo. Por exemplo, toda vez que você
alterna entre responder e-mails e escrever um artigo importante, está drenando
recursos cerebrais e energia preciosos.” Seu conselho é evitar a coisa, porque
isso arruína a produtividade, causa erros e impede o pensamento criativo, pois
nós, humanos temos uma capacidade muito
limitada para o pensamento simultâneo, e só podemos manter na mente um pouco de
informação de cada vez.
Para reforçar o ponto de
vista de Miller, outro estudo realizado na Universidade da Califórnia,
descobriu que leva uma média de 23 minutos e 15 segundos para refocar uma
tarefa após uma interrupção. E isso é apenas uma interrupção! Imagine a
quantidade de tempo que é desperdiçado por interrupções repetitivas ao longo do
dia. Faz as contas.
3. MULTITASKING REDUZ FOCO E CONCENTRAÇÃO
Segundo o neurocientista
Daniel Levitin, “o multitasking cria um ciclo de feedback de dependência de
dopamina, recompensando efetivamente o cérebro por perder o foco e por
constantemente buscar estímulos externos”, pois as regiões cerebrais que
precisamos manter o foco em uma tarefa, são facilmente distraíveis. Cada vez
que multitaskeamos, navegando na internet, checando varias mídias sociais,
e-mails e assim por diante, treinamos nossos cérebros para perder o foco e nos
distrair. Vai daí que, tal qual os efeitos de uma droga, nossos cérebros podem
ficar viciados no aumento de dopamina quando trocam de tarefas e perdem o foco.
Quando isso acontece, torna-se muito difícil quebrar o ciclo, como tão bem
demonstra qualquer dependente de qualquer droga.
4- MULTITASKING PODE EMBURRECER.
Um estudo realizado da
Universidade de Londres, descobriu que os participantes que multitaskeavam, tiveram
uma queda nos pontos de QI, até o nível médio de uma criança de 8 anos de
idade. Pensa nisso da próxima vez que estiver prestes a realizar várias tarefas
ao mesmo tempo, pense na estarrecedora possibilidade de não haver muita diferença
entre a qualidade do seu trabalho e o de uma criança de 8 anos.
Estudos também mostraram que
o multitasking dificulta o aprendizado. Em 2011, os pesquisadores Reynol Junco
e Shelia R. Cotton publicaram um estudo sobre os efeitos da multitarefa no
desempenho acadêmico, tendo descoberto que, em média, os alunos que usavam o
Facebook e respondiam a textos, enquanto estavam na escola, tinham um GPA e
notas mais baixas do que aqueles que não o faziam.
Os pesquisadores observaram
que “o processamento de informações humanas é insuficiente para atender a
múltiplos fluxos de entrada e para executar tarefas simultâneas”. Como o foco e
a qualidade da atenção da são necessários para o aprendizado, o multitasking
dificulta nossa capacidade de aprender e interpretar informações de maneira
eficaz
5- MULTITASKING CRIA
ESTRESSE E ANSIEDADE
Vários estudos mostraram que
o multitasking aumenta a produção de de cortisol, o assim chamado “hormônio do
stress”.
Quando estamos estressados e
mentalmente fatigados, a ansiedade aumenta, o que leva ao acúmulo do estresse,
formando um ciclo vicioso de estresse e ansiedade constantes.
Mas nem todas as atividades
multitarefa são igualmente estressantes. De longe, um dos principais fatores de
estresse é a caixa de entrada de e-mail. O excesso de cortisol é produzido
quando alternamos entre ler e responder a e-mails. Assim, se você luta com o
estresse e a ansiedade, limpe sua caixa de entrada de e-mail o mais rápido
possível.
6- MULTITASKING MATA A CRIATIVIDADE
O neurocientista Earl Miller
sugere que o multitasking atrapalha criatividade e a inovação. “O pensamento
inovador, afinal, vem da concentração ... Quando tentamos multitaskear, não nos
concentramos o suficiente para dar de cara em algo original, porque estamos
constantemente mudando e retrocedendo. ”
O suco criativo é
desperdiçado ao alternar entre as tarefas e, idéias inovadoras, que poderiam
ter aparecido, passaram batido por falta de atenção.
7- MULTITASKING REDUZ A INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL
De acordo com extensa
pesquisa conduzida por Travis Bradberry, especialista em inteligência
emocional, esta é uma característica comum a 90% das pessoas que tem melhor
desempenho em qualquer área, e sugere que o multitasking poderia danificar a
parte do cérebro responsável pela mesma
(córtex cingulado anterior). Além disso, os dois principais componentes da
inteligência emocional, auto e consciência e consciência social, podem diminuir
significativamente devido ao multitasking. (Adendo meu: isso pode explicar o
extensivo fenômeno de espalhamento de fake news e aumento dos grupos de extrema
direita mundo afora, pois, quando o cortex frontal está funcionando em baixa
frequência, não há possibilidade de pensamento crítico e, sem auto consciência
ou consciência social, fica extremamente mais fácil o estímulo da amigdala, que
é nosso centro do medo. Quando ela é estimulada, o cortex meio que congela. Não
à toa, há inúmeros estudos demonstrando a diferença de ativação da amigdala
entre conservadores e liberais, mas esta é uma outra história que fica para uma
outra vez).
8. MULTITASKING PROVOCA
SOBRECARGA E ESGOTAMENTO
Segundo o neurocientista
Daniel Levitin, o multitasking sobrecarrega o cérebro e drena energia. “Pedir
ao cérebro para desviar a atenção de uma atividade para outra faz com que o
córtex pré-frontal e o corpo estriado queimem glicose oxigenada, o mesmo
combustível de que precisam para completer tarefas. E o tipo de mudança rápida
e contínua que fazemos com o multitasking leva o cérebro a queimar o
combustível tão rapidamente que nos sentimos exaustos e desorientados depois de
curto período de tempo. Literalmente, esgotamos os nutrientes em nosso cérebro “.
9. MULTITASKING LEVA A
DECISÕES IDIOTAS
O multitasking também prejudica
as habilidades de tomada de decisão. Ao alternar constantemente entre as
tarefas, o precioso "músculo da força de vontade" é esgotado, o que leva
à acumulação de “fadiga de decisão”, termo psicológico que se refere à
deterioração da qualidade das decisões , depois que se toma uma série de
decisões, além de levar a comportamentos
impulsivos e a decisões disparatadas, pois uma das primeiras coisas que
perdemos no multitasking, é o controle dos
impulsos. Isso rapidamente se transforma num estado de esgotamento no qual,
depois de tomar muitas decisões insignificantes, podemos acabar tomando
decisões realmente ruins sobre algo importante. Como resultado, torna-se muito
mais difícil adiar a gratificação e exercitar o nível de autocontrole
necessário para alcançar nossos objetivos.
PROTEJA-SE
Nosso cérebro não é construído para executar várias
tarefas e gerenciar a quantidade de informações que enfrentamos diariamente, e
a melhor
maneira de protege-lo é praticar o ato de escolher. Concentre-se em uma coisa
de cada vez e faça pausas a cada hora e meia, para recuperar sua energia. Trabalhe
em um ambiente livre de distrações e mantenha telefones e dispositivos de mídia
fora de vista.
O multitasking parece fantástico, mas não vale a
pena desperdiçar seu tempo e energia, enquanto vai destruindo seu cérebro.
Emotional Intelligence – EQ CLIQUE AQUI
Here’s Why You Shouldn’t
Multitask, According to an MIT Neuroscientist CLIQUE AQUI
Higher Media Multi-Tasking
Activity Is Associated with Smaller Gray-Matter Density in the Anterior Cingulate
Cortex CLIQUE AQUI
The Cost of Interrupted
Work: More Speed and Stress CLIQUE AQUI
The relationship between
multitasking and academic performance CLIQUE AQUI
The organized mind:
thinking straight in the age of information overload: Levitin, Daniel J,
Dutton, New York, NY, 2014
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