NÓS, MULHERES, PRECISAMOS DA CORAGEM DE DESISTIR
É tão bonito que traduzi ao pé da letra como uma homenagem a essas mulheres maravilhosas que poderiam ter sido minhas filhas.
Como foi tão mais fácil para nós, baby boomers.
A gente sabia, clara e gloriosamente que estavamos nos rebelando. Que estavamos fazendo coisas e tendo idéias que nossas mães não ousaram, mas víamos claramente, no sorriso de orelha a orelha, de tais mães e avós, o orgulho de termos alcançado um degrau que elas sonharam. Lembro do prazer de minha vó Adriana a desenhar e costurar mini vestidos que causavam ataques cardíacos no meu pai, minha mãe fazendo de conta que não sabia como aquilo tinha parado em mim, e logo atrás o trio terrivel (nonna Adriana, nonna Linda, e Eti), declarando em uníssono que elas tinham feito. Isso fora meu avô a me alimentar com sólida dieta dos clássicos, para horror de minha mãe ao me descobrir lendo “Tom Jones” aos 13 anos e ser informada que tinha sido o pai dela a me dar. Primeira e única vez que a vi brigando com o pai, e descobri que, no fundo, a briga era porque êle só permitiu que ela lesse tal obra depois que fez 18 anos.
Então, acho que devemos desculpas a essa geração espremida.
Somos a geração Twister (Contorcida), como aquele jogo de circulos coloridos, um dadinho e uma seta, que instruem os jogadores: mão direita na bola amarela, pé esquerdo na bola azul, mão esquerda na verde e assim por diante, até emaranhar-se inextricavelmente.
Tal qual a educação que recebemos.
Você tem que se ralizar. E achar marido.
Seja forte. Mas não muito.
Abaixe a voz. Levante a cabeça."
Não se faça notar . Faça se valer.
Aprenda a se defender. Mas não faça muitas friulas.
Cuide-se. Sem negligenciar seu marido.
Encontre um emprego. Mas seu marido terá precedência.
Mão direita no amarelo, mão esquerda no azul, pé direito no vermelho.
As mulheres da minha geração cresceram entre objetivos inalienáveis e ao mesmo tempo incompatíveis ou quase. Nos deixaram livres para perseguir nossos sonhos, mas sobrecarregaram-nos com deveres conjugais e familiares. Nos valorizaram e encorajaram e prepararam, mas sem nos livrar das obrigações da geração anterior. Nos disseram para decolar, mas voar baixo. Somos mulheres capazes de alcançar o topo de uma sociedade, mas permitimos que os homens venham e expliquem como isso funciona. Nós lutamos a cada momento do dia, mas ao lado de um homem nós damos um passo atrás para não roubar a cena. Nós nos matamos com fadiga, gerenciamos equilíbrios impossíveis e sempre nos sentimos culpadas. Pé direito no verde, pé esquerdo no azul, mão esquerda no amarelo, até que você se renda ou termine com o seu traseiro no chão.
Mas nós não desistimos, continuamos, enredadas em culpa e fadiga, até nos esquecermos de nós mesmos, vítimas da Síndrome do Pano de Prato. Como o pano de prato que minha avó, formada e jornalista, me confessou, ficava sempre perto da porta quando ela esperava pela volta do marido, para não ser encontrada com as mãos abanando. Pé esquerdo em amarelo. Mão esquerda no vermelho. Aquele pano de prato que permaneceu aninhado em um canto da minha mente e sussurra que me dedicar a mim mesma e às minhas aspirações é algo culpado e fraudulento, que o valor de uma mulher é medido pelo sacrifício e pela fadiga.
Somos uma geração de mulheres programadas para se sentirem culpadas, sempre e em toda parte. Temos a força para chegar ao final do jogo, mas não temos a coragem de nos deixar cair no chão no meio da partida, sem culpa e sem panos de pratos na mão.
Isto é o que precisamos, na minha opinião: a coragem de desistir, não de fazê-lo, não fazer tudo, delegar. A coragem de nos dedicarmos a nós mesmas, sem precisarmos estar exaustas ou sozinhas, sem desculpas e sem justificativas.
Que chamem de rebelião, preguiça, presunção, inadequação, arrogância, fragilidade, que chamem como lhes agradar: eu chamo felicidade.
ARTIGO ORIGINAL CLIQUE AQUI
Como foi tão mais fácil para nós, baby boomers.
A gente sabia, clara e gloriosamente que estavamos nos rebelando. Que estavamos fazendo coisas e tendo idéias que nossas mães não ousaram, mas víamos claramente, no sorriso de orelha a orelha, de tais mães e avós, o orgulho de termos alcançado um degrau que elas sonharam. Lembro do prazer de minha vó Adriana a desenhar e costurar mini vestidos que causavam ataques cardíacos no meu pai, minha mãe fazendo de conta que não sabia como aquilo tinha parado em mim, e logo atrás o trio terrivel (nonna Adriana, nonna Linda, e Eti), declarando em uníssono que elas tinham feito. Isso fora meu avô a me alimentar com sólida dieta dos clássicos, para horror de minha mãe ao me descobrir lendo “Tom Jones” aos 13 anos e ser informada que tinha sido o pai dela a me dar. Primeira e única vez que a vi brigando com o pai, e descobri que, no fundo, a briga era porque êle só permitiu que ela lesse tal obra depois que fez 18 anos.
Então, acho que devemos desculpas a essa geração espremida.
Depois dos Baby Boomers e antes dos Millenials, teve a geração Twister (torcida), a minha, nascida nos anos 70, de pais que haviam cruzado o ano de 68 quando não eram mais jovens o suficiente para se deixar arrebatar, mas nem eram tão velhos que puderam ignorar. Uma geração educada por avós que nos ensinavam a deixar os homens acreditarem que mandavam e por mães que que batiam os pés, impacientemente e falavam de satisfação feminina, mas desligavam o telefone ao ouvir o marido chegar.
Somos a geração Twister (Contorcida), como aquele jogo de circulos coloridos, um dadinho e uma seta, que instruem os jogadores: mão direita na bola amarela, pé esquerdo na bola azul, mão esquerda na verde e assim por diante, até emaranhar-se inextricavelmente.
Tal qual a educação que recebemos.
Você tem que se ralizar. E achar marido.
Seja forte. Mas não muito.
Abaixe a voz. Levante a cabeça."
Não se faça notar . Faça se valer.
Aprenda a se defender. Mas não faça muitas friulas.
Cuide-se. Sem negligenciar seu marido.
Encontre um emprego. Mas seu marido terá precedência.
Mão direita no amarelo, mão esquerda no azul, pé direito no vermelho.
As mulheres da minha geração cresceram entre objetivos inalienáveis e ao mesmo tempo incompatíveis ou quase. Nos deixaram livres para perseguir nossos sonhos, mas sobrecarregaram-nos com deveres conjugais e familiares. Nos valorizaram e encorajaram e prepararam, mas sem nos livrar das obrigações da geração anterior. Nos disseram para decolar, mas voar baixo. Somos mulheres capazes de alcançar o topo de uma sociedade, mas permitimos que os homens venham e expliquem como isso funciona. Nós lutamos a cada momento do dia, mas ao lado de um homem nós damos um passo atrás para não roubar a cena. Nós nos matamos com fadiga, gerenciamos equilíbrios impossíveis e sempre nos sentimos culpadas. Pé direito no verde, pé esquerdo no azul, mão esquerda no amarelo, até que você se renda ou termine com o seu traseiro no chão.
Mas nós não desistimos, continuamos, enredadas em culpa e fadiga, até nos esquecermos de nós mesmos, vítimas da Síndrome do Pano de Prato. Como o pano de prato que minha avó, formada e jornalista, me confessou, ficava sempre perto da porta quando ela esperava pela volta do marido, para não ser encontrada com as mãos abanando. Pé esquerdo em amarelo. Mão esquerda no vermelho. Aquele pano de prato que permaneceu aninhado em um canto da minha mente e sussurra que me dedicar a mim mesma e às minhas aspirações é algo culpado e fraudulento, que o valor de uma mulher é medido pelo sacrifício e pela fadiga.
Somos uma geração de mulheres programadas para se sentirem culpadas, sempre e em toda parte. Temos a força para chegar ao final do jogo, mas não temos a coragem de nos deixar cair no chão no meio da partida, sem culpa e sem panos de pratos na mão.
Isto é o que precisamos, na minha opinião: a coragem de desistir, não de fazê-lo, não fazer tudo, delegar. A coragem de nos dedicarmos a nós mesmas, sem precisarmos estar exaustas ou sozinhas, sem desculpas e sem justificativas.
Que chamem de rebelião, preguiça, presunção, inadequação, arrogância, fragilidade, que chamem como lhes agradar: eu chamo felicidade.
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