MITOS E LENDAS URBANAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE
Neste resto de mês de Julho, vou falar sobre mitos na medicina.
Na realidade, não são mitos, pois, por definição,mito é uma história tradicional, antiga,que lida com seres sobrenaturais ou heróis,servindo como fundamento da cosmovisão de um povo,por explicar aspectos do mundo natural ou por delinear a psicologia, costumes ou ideais de uma sociedade. (MW thesaurus).Um exemplo de mito é o de Eros e Psiquê.
Então, vou falar mesmo é de lendas urbanas, que por definição, são histórias apócrifas, contadas em segunda mão, plausíveis o suficiente para serem críveis, e versam sobre alguma coisa horrível, embaraçosa, irônica ou exasperante que aconteceu a alguma pessoa. (MW thesaurus).
As minhas preferidas,até o advento da internet,eram,e não necessariamente nessa ordem:
a)qualquer variação sobre o tema da desgraça que algum médico famoso teria provocado em algum membro da família do contante;
b)a famosíssima: “é natural, então não faz mal”,logo seguida de “é química, péssimo”, ao que, jovem e desavisada, costumava responder com um mal criado: “cicuta, naturalíssima, não fez nenhum bem para Sócrates, nem nunca fez bem a nenhum vivente um copo de petróleo pela manhã, em jejum.”
O problema das lendas urbanas é que trazem em si a credibilidade de um Doutor ou Professor na frente do nome de alguma criatura de quem nunca, jamais, alguém ouviu falar.
Quando é uma coisa tão absurda, quanto a famosa dos anos 90, em que cidadão acordava numa banheira de gelo, num hotel, sem os rins, é simples, é só perguntar como é que uma pessoa vai acordar sem os rins.
Com a internet, a coisa alcançou níveis epidêmicos, pois, sem pensar, apertamos o botão de “avançar”, sem nos determos para pensar nas famosas perguntinhas do pensamento critico: QUEM – COMO – QUANDO – POR QUE – ONDE.
Há alguns anos fui inundada, em duas línguas, por e-mails me pedindo para assinar uma petição para parar a produção de um filme onde Jesus Cristo seria retratado como homossexual.
Respondi para dois remetentes, um no Brasil e outro aqui mesmo, perguntando qual era o nome do filme e quem o estava produzindo. Gozado é que ninguém tinha a menor ideia, mas isso não os impediu de acreditar piamente na coisa.
No Brasil, não sei se tem, mas aqui há um site chamado SNOPES, que traz todas as checagens, e mesmo assim, as pessoas não se dão ao trabalho de olhar, sempre que uma lenda preencha suas crenças ou atice os medos básicos, que são o solo fértil de nossos preconceitos.
Mas não vou aqui falar de sociologia, que nem é minha área. Quero falar das desgraças que assolam o reino, quando essas lendas e esses preconceitos são usados na área de saúde, e quero começar com o que considero um dos mais perigosos:
O QUE É NATURAL NÃO FAZ MAL, ligado ao seu irmão gêmeo MEDICAMENTOS SÃO QUIMICA E, SE NÃO FOSSE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA GANHAR TANTO DINHEIRO COM ISSO, JÁ TERÍAMOS CURAS PARA TODOS OS MALES.
Exemplos de coisas muito naturais:
Alho e Cebola (gênero Allium): Contém tiossulfato, que, em altas doses, é extremamente tóxico para cães e gatos.
Batata (Solanum tuberosum): Contém glicoalcalóides que, em altas doses, podem produzir diarreia, cefaleia e distúrbios gastrointestinais sérios.
Curare (Strychnos toxifera): Extratos da folha, muito usados na ponta de flechas de várias tribos indígenas na América do Sul. É um veneno que mata por asfixia, pois paralisa os músculos. Em 1850, George Harley demonstrou a eficácia do curare no tratamento do tétano e do envenenamento por estricnina. Em 1940, foi introduzido como relaxante muscular em anestesia, e continua sendo usado.
Maçã (Malus domestica): Suas sementes contém amigdalina, que é um componente cianogênico. Ninguém ainda morreu disso porque há que se comer enorme quantidade das mesmas, e, usualmente,ninguém come as sementes.
Nóz moscada (Myristica fragrans): Contém miristicina, que é inseticida e ascaricida (mata os vermes chamados áscaris- lombriga), e tem efeitos neurotóxicos, naturalmente em doses extremamente mais altas do que nas usadas na cozinha.
Psilocibina: do cogumelo Psilocybe semilanceata, chamado pelos Astecas de “teonanacatl”ou cogumelo divino. Usado desde priscas eras por seus efeitos alucinatórios, atualmente está sendo estudado por seus efeitos extremamente benéficos no tratamento de distúrbios obsessivos compulsivos, como também em cefaleia em salvas e ansiedade relacionadas a estados terminais de cânceres.
Pronto, só alguns exemplos para clarear o conceito. Isso sem levar em conta que a maioria dos nossos medicamentos provém de fontes naturais.
A famosa aspirina (ácido acetil salicílico) vem do salgueiro, planta usada em chás para tratamento de febre, desde 400 AC (pelo menos que se saiba, não há registros antes dessa data); e a boa e velha Penicilina vem do musgo (Penicillium fungi). A lista é longa e não é minha meta fazer um tratado sobre “As fontes naturais de nossos medicamentos e venenos”, se bem que pode ser uma boa ideia para um e-book.
A ideia é falar sobre conceitos equivocados que tanto afetam tratamentos, principalmente no campo da saúde mental.
Caso queiram saber mais sobre mitos, aconselho a obra de Joseph Campbell
Na realidade, não são mitos, pois, por definição,mito é uma história tradicional, antiga,que lida com seres sobrenaturais ou heróis,servindo como fundamento da cosmovisão de um povo,por explicar aspectos do mundo natural ou por delinear a psicologia, costumes ou ideais de uma sociedade. (MW thesaurus).Um exemplo de mito é o de Eros e Psiquê.
Então, vou falar mesmo é de lendas urbanas, que por definição, são histórias apócrifas, contadas em segunda mão, plausíveis o suficiente para serem críveis, e versam sobre alguma coisa horrível, embaraçosa, irônica ou exasperante que aconteceu a alguma pessoa. (MW thesaurus).
As minhas preferidas,até o advento da internet,eram,e não necessariamente nessa ordem:
a)qualquer variação sobre o tema da desgraça que algum médico famoso teria provocado em algum membro da família do contante;
b)a famosíssima: “é natural, então não faz mal”,logo seguida de “é química, péssimo”, ao que, jovem e desavisada, costumava responder com um mal criado: “cicuta, naturalíssima, não fez nenhum bem para Sócrates, nem nunca fez bem a nenhum vivente um copo de petróleo pela manhã, em jejum.”
O problema das lendas urbanas é que trazem em si a credibilidade de um Doutor ou Professor na frente do nome de alguma criatura de quem nunca, jamais, alguém ouviu falar.
Quando é uma coisa tão absurda, quanto a famosa dos anos 90, em que cidadão acordava numa banheira de gelo, num hotel, sem os rins, é simples, é só perguntar como é que uma pessoa vai acordar sem os rins.
Com a internet, a coisa alcançou níveis epidêmicos, pois, sem pensar, apertamos o botão de “avançar”, sem nos determos para pensar nas famosas perguntinhas do pensamento critico: QUEM – COMO – QUANDO – POR QUE – ONDE.
Há alguns anos fui inundada, em duas línguas, por e-mails me pedindo para assinar uma petição para parar a produção de um filme onde Jesus Cristo seria retratado como homossexual.
Respondi para dois remetentes, um no Brasil e outro aqui mesmo, perguntando qual era o nome do filme e quem o estava produzindo. Gozado é que ninguém tinha a menor ideia, mas isso não os impediu de acreditar piamente na coisa.
No Brasil, não sei se tem, mas aqui há um site chamado SNOPES, que traz todas as checagens, e mesmo assim, as pessoas não se dão ao trabalho de olhar, sempre que uma lenda preencha suas crenças ou atice os medos básicos, que são o solo fértil de nossos preconceitos.
Mas não vou aqui falar de sociologia, que nem é minha área. Quero falar das desgraças que assolam o reino, quando essas lendas e esses preconceitos são usados na área de saúde, e quero começar com o que considero um dos mais perigosos:
O QUE É NATURAL NÃO FAZ MAL, ligado ao seu irmão gêmeo MEDICAMENTOS SÃO QUIMICA E, SE NÃO FOSSE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA GANHAR TANTO DINHEIRO COM ISSO, JÁ TERÍAMOS CURAS PARA TODOS OS MALES.
Exemplos de coisas muito naturais:
Alho e Cebola (gênero Allium): Contém tiossulfato, que, em altas doses, é extremamente tóxico para cães e gatos.
Batata (Solanum tuberosum): Contém glicoalcalóides que, em altas doses, podem produzir diarreia, cefaleia e distúrbios gastrointestinais sérios.
Curare (Strychnos toxifera): Extratos da folha, muito usados na ponta de flechas de várias tribos indígenas na América do Sul. É um veneno que mata por asfixia, pois paralisa os músculos. Em 1850, George Harley demonstrou a eficácia do curare no tratamento do tétano e do envenenamento por estricnina. Em 1940, foi introduzido como relaxante muscular em anestesia, e continua sendo usado.
Maçã (Malus domestica): Suas sementes contém amigdalina, que é um componente cianogênico. Ninguém ainda morreu disso porque há que se comer enorme quantidade das mesmas, e, usualmente,ninguém come as sementes.
Nóz moscada (Myristica fragrans): Contém miristicina, que é inseticida e ascaricida (mata os vermes chamados áscaris- lombriga), e tem efeitos neurotóxicos, naturalmente em doses extremamente mais altas do que nas usadas na cozinha.
Psilocibina: do cogumelo Psilocybe semilanceata, chamado pelos Astecas de “teonanacatl”ou cogumelo divino. Usado desde priscas eras por seus efeitos alucinatórios, atualmente está sendo estudado por seus efeitos extremamente benéficos no tratamento de distúrbios obsessivos compulsivos, como também em cefaleia em salvas e ansiedade relacionadas a estados terminais de cânceres.
Pronto, só alguns exemplos para clarear o conceito. Isso sem levar em conta que a maioria dos nossos medicamentos provém de fontes naturais.
A famosa aspirina (ácido acetil salicílico) vem do salgueiro, planta usada em chás para tratamento de febre, desde 400 AC (pelo menos que se saiba, não há registros antes dessa data); e a boa e velha Penicilina vem do musgo (Penicillium fungi). A lista é longa e não é minha meta fazer um tratado sobre “As fontes naturais de nossos medicamentos e venenos”, se bem que pode ser uma boa ideia para um e-book.
A ideia é falar sobre conceitos equivocados que tanto afetam tratamentos, principalmente no campo da saúde mental.
Caso queiram saber mais sobre mitos, aconselho a obra de Joseph Campbell
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