SEGURANÇA EMOCIONAL:O Primeiro Passo para Restaurar o Equilibrio em Relações Tóxicas Parte III
TOXIC RELATIONSHIPS III
Uma relação tóxica reflete a maneira costumeira pela qual os
parceiros administram suas emoções, principalmente as mais difíceis, como medo
e raiva.
Assim, os padrões de interação tóxica acabam por controlar
as vidas dos parceiros numa relação, influenciando negativamente qualquer
possibilidade de intimidade e de um relacionamento alegre e interessante.
Na Primeira Parte, descrevemos os 5 padrões de interação
tóxica, e como os parceiros ativam, seus e do outro, mecanismos de defesa.
Na Segunda Parte, vimos as explicações neuro e psicológicas
do como e porque esses padrões se formam e são mantidos.
No presente artigo, exploraremos os principais fatores que
afetam uma relação, e o primeiro passo a ser tomado para sair de padrões
tóxicos e restaurar o equilíbrio numa relação e/ou em nossa vida pessoal.
O QUE É NECESSÁRIO PARA RESTAURAR O EQUILÍBRIO
Restaurar o equilíbrio significa que cada parceiro precisa
estabelecer seu próprio sentido de segurança emocional em relação ao outro.
O corpo humano funciona bem quando há um relativo estado de equilíbrio
físico, mental e emocional.
Por centenas de anos, mantivemos um ponto de vista dualístico
de corpo e mente como se fossem entidades separadas, baseado na visão
racionalista de Descartes.
Hoje sabe-se que não é assim que funciona, sendo que os
processos físicos e mentais formam um grande sistema de comunicação.
Sabemos também que o Sistema Nervoso Autonômico (SNA)
desempenha importante função na condução de mensagens nessa rede de informações
que constituem um relacionamento (Sistema de Engajamento Social - Dr. Stephen
Porges).
O sentido de segurança de cada parceiro afeta e é afetado
diretamente pelo SNA, cujo funcionamento é automático, inconsciente e
manipulado por aquela parte da mente que opera todos os sistemas do organismo.
Esse sistema acumula dados de forma continua e, baseado
nesses dados e nova informação que continua chegando todo o tempo, manda
informações de volta para que cada parceiro saiba onde está no relacionamento,
comparando com onde eles querem estar, tanto como indivíduos quanto como
parceiros numa relação.
Os nossos já velhos conhecidos neurotransmissores, por sua
vez, funcionando como transmissores químicos, virtualmente controlam todas as
funções vitais.
Algumas dessas mensagens produzem sentimentos de bem e mal
estar, e são o elemento chave na formação de comportamentos, deste modo
"lapidando” as respostas dos parceiros.
A oxitoxina, dopamina, endorfina, serotonina (ODES - essa é
bobagem minha para memorizar, porque fica fácil...cantam Odes, como em Ode à
alegria ou a Nona sinfonia de Beethoven, que aconselho a ouvir em situações de
leve deprê), são, de maneira geral, os neurotransmissores
"alegrinhos", pois produzem sensações de bem estar.
A Oxitoxina funciona aumentando o sentimento de segurança e
amor dos e entre os parceiros (Não à toa, também é liberada durante a
amamentação e quando do uso de alguns anti-psicóticos, cujo efeito colateral é
produzir leite em gente que não está amamentando. Deixo aqui à imaginação de
vocês um método facílimo para estimular a liberação da mesma).
A Dopamina é o neurotransmissor de Recompensa por excelência,
sendo liberado tanto em antecipação de, quanto no alcance de uma meta.
As Endorfinas fazem parte do Mecanismo de Recompensa do
cérebro, e são liberadas durante exercício físico, paixão (qualquer uma, paixão
por uma pessoa, por uma idéia, lendo um livro que se ama, etc...) e durante
situações de dor intensa, diminuindo a mesma.
A função dos danadinhos acima explica porque alguns
comportamentos são repetidos de forma compulsiva, mesmo os tóxicos, que a única
coisa que fazem é escalar a intensidade das reações. Apesar disso, eles ajudam
a diminuir a intensidade de emoções dolorosas, sendo assim naturalmente
aditivos, posto que oferecem conforto rápido pela liberação de ODES.
(Embora isto não esteja no artigo, é bom lembrar que este
mecanismo explica também a dependência às drogas, desde que as mesmas se ligam
a receptores no cérebro que funcionam exatamente como os neurotransmissores
descritos. E é também o mesmo processo que explica o porque é tão difícil o
largar o hábito, pois quando o cérebro percebe que os receptores para seus
neurotransmissores já estão ocupados pelas drogas, preguiçoso que é, deixa de
produzir os retransmissores, de forma que, quando a pessoa deixa de usar a
droga, durante algum tempo vai ficar sem o neurotransmissor correspondente. E
aí entra a "necessidade” de usar de novo. Na realidade, o uso de drogas
não é uma tentativa de suicídio como muitos dizem, mas sim, uma tentativa de
sobrevivência.)
Enquanto isso, os hormônios de sentir-se mal, como Cortisol
e Adrenalina, oferecem uma explicação do porque os parceiros sentem-se trêmulos
e em pânico em situações que desencadeiam seus principais medos, tais como
inadequação, rejeição ou abandono.
Todos os sistemas do organismo estão em contínua interação
para manter a homeostase, que é um estado de relativo equilíbrio. Hormônios
ligados a stress, como por ex o cortisol, ativam a resposta corporal de
sobrevivência ou, para os íntimos, stress (Sistema nervoso Simpático), e os
alegrinhos por sua vez, restauram o equilíbrio emocional (Sistema Nervoso
Parassimpático).
Então, finalmente dá para entender o porque os parceiros
dizem e fazem coisas que são contraprodutivas ou mesmo destrutivas: porque, a
nível inconsciente, isso os faz sentir melhor.
PASSOS PARA ACABAR COM PADRÕES DE RELACIONAMENTO TÓXICOS
O simples fato é que, a não ser que cada parceiro se sinta
seguro o suficiente para amar, a conexão amorosa será quebrada pelas
estratégias protetoras (mecanismos de defesa).
Pode parecer meio sem sentido, mas a restauração do
equilíbrio numa relação é, antes de mais nada, a necessidade de cada parceiro
de manter seu próprio sentido de segurança emocional em relação ao outro.
Claro está que cada parceiro é responsável quanto ao uso de
suas habilidades em fornecer respostas carinhosas de forma a diminuir as
chances de ativação da resposta de stress do outro.
A fim e a cabo, um relacionamento saudável só pode funcionar
se cada parceiro aceitar a responsabilidade de permanecer no controle de suas
próprias emoções para prevenir reações automáticas.
A formação de uma parceria efetiva requer trabalho de
equipe, e isso significa que cada parceiro concorde em assumir 100% da
responsabilidade no fazer o que preciso for para acessar suas habilidades de
carinho e cuidados e permanecer no controle de seus estados emocionais, mental
e corporalmente.
É o que os parceiros podem fazer para se desengatar de seus
velhos pensamentos tóxicos e estratégias protetoras, destarte inibindo a
ativação do sistema de sobrevivência do
corpo (stress)
PASSOS A SEREM DADOS PARA A RESTAURAÇÃO DO SENTIDO DE
SEGURANÇA PRÓPRIO E DO PARCEIRO
Aprender a estar consciente de como os estados emocionais de
cada um desencadeiam as reações do outro.
Parceiros tendem a focalizar nos detalhes de seus problemas,
o que resulta numa briga contínua a respeito de quem fez ou não fez o que a
quem, quando e como, indefinidamente.
Na realidade, nada afeta mais a qualidade de uma relação (e
portanto as brigas e discussões entre os parceiros) do que o nível de segurança
emocional que cada um sente na relação.
E CÁ ESTÁ PARTE DA SOLUÇÃO
Emoções afetam relacionamentos e, de forma similar, o que
está acontecendo no corpo de cada parceiro. Os comandos que mandamos organizam,
de forma inconsciente, as crenças, pensamentos e ações, em suma, a vida, nossa
e do parceiro, por liberarem os neurotransmissores/hormônios que ativam as
ligações e gatilhos dos velhos e novos padrões neurais.
Numa relação, mente e corpo de cada parceiro são diretamente
afetados pelas repostas emocionais, próprias e do outro, mas a regulagem dessas
emoções baseia-se unicamente nas habilidades de cada um de experiência a
inteira gama delas, incluindo as desagradáveis e perturbadoras, sem necessariamente
entrar em stress.
O que cada parceiro pensa, diz e faz, como eles se
relacionam emocionalmente e seus própios estados emocionais, tem um impacto
direto no equilíbrio interno de seus sistemas nervosos autonômicos (E isso me
faz pensar que, na próxima vez que alguém me torrar a paciência, direi, com um
discreto sorriso de mona lisa estampado na cara: você está desequilibrando meu
sistema nervoso autonômico, por favor, pare.De certa forma, era o que fazia em
Sampa, há milênios atrás, quando alguém no transito berrava: vai pro tanque
dona Maria, educadamente respondia, tão logo você sair da estrada, seu
macrognata microcéfalo. Ainda bem que ninguém achava que era legal carregar e
disparar armas em disputas do tipo.)
Os locais de recepção para os neurotransmissores, alegrinhos
ou mauzinhos, localizam-se na mesma parte do cérebro que lida com as emoções
(Sistema Límbico, uma belezinha o danado).
Assim, o nível de segurança emocional de cada parceiro ativa,
dentro desse sistema, processos dinâmicos que afetam diretamente:
-a química cerebral
-as sensações fisiológicas (as que sentimos) em nossos corpos
-pensamentos e comportamentos
-a maneira de responder (se relacionar) um com o outro
-a qualidade da intimidade emocional na relação
Como numa bússola, as emoções e sentimentos também são
mensagens que cada parceiro recebe de seu sistema nervoso autônomo, e são de
fundamental importância, pois informam a cada um se estão ou não no caminho
certo em relação a seus objetivos, assim como se essa abordagem os está movendo
para mais perto ou mais longe de suas aspirações,e talvez até o que fazer a
respeito.
O ter acesso à inteira gama de emoções é um recurso vital na
tomada de decisões.
Quando conectados a esse recurso, os parceiros aprendem como
lidar melhor com emoções difíceis ou desagradáveis, assim como entendem como
essas mesmas emoções afetam seu próprio comportamento e o do outro.
Numa relação tóxica, a maioria das mensagens perde-se pelo
caminho, quer por serem ignoradas ou não entendidas
É AQUI QUE MORA O
PERIGO E OUTRA PARTE DA SOLUÇÃO
O problema é que, inconscientemente, cada parceiro
interpreta mal ou erroneamente certos estímulos emocionais - os seus próprios
e/ou de seu parceiro - e os entende literalmente como ameaças perigosas.
O problema é que nosso inconsciente, ou seja, a parte da
mente que dirige o corpo, é meio bobinho e não distingue entre sobrevivência
física e mental, e assim, quando o gatilho interno é disparado pelo que um dos
parceiros faz ou diz (o que pode ser doloroso, mas com certeza não é ameaça à
nossa vida física), acaba sendo o mesmo que estar numa jaula com um tigre feroz
e esfomeado (o qual também pode, em outros momentos, ser gracinha e amoroso
feito um gatinho).
Em outras palavras, houve a formação de circuitos de comando
emocional no cérebro que, em certos momentos, dão a cada parceiro a impressão
de perigo, que é sentida como se fosse real.
Para seus cérebros (os deles, parceiros), nesses momentos o
outro é o inimigo que ameaça suas vidas, e suas mentes inconscientes tem a
prova cabal disso, uma espécie de relatório interno de suas memórias listando
todas as atividades "terroristas” do parceiro.
Vai dai que, sob esse ponto de vista, faz o maior sentido
agir em defesa própria.
TUDO BEM, MAS QUAL É A SOLUÇÃO?
A solução, para cada um dos parceiros, é:
-Perceba quais são os
gatilhos, seus e do parceiro, assim como as formas específicas pelas quais sua própria
reatividade ativa a resposta de sobrevivência do outro
Note que TODOS os
padrões reativos são contraprodutivos, impedem crescimento pessoal e destroem tudo
o que há de bom numa relação.
Responsabilize-se 100% pelo controle de seu próprio sentido
de segurança interna para prevenir as reações do outro ou desnecessariamente
ativar a resposta de sobrevivência do organismo.
-Aprenda a entender suas próprias emoções e a sentir toda a
gama delas de maneira saudável, principalmente aquelas de que tem mais medo,
tratando-as como guias que o ajudam na vida ao invés de inimigos mortais.
Assim, o aprendizado de como as emoções afetam a cada um, é
o primeiro passo que os parceiros precisam dar para se livrar dos padrões de
relacionamento tóxicos.
Na prática, isso requer que cada parceiro se comprometa e se
esforce para aprender a se sentir confortável com emoções desconfortáveis.
Muitas vezes, há a necessidade de identificar os próprios
tabus emocionais. Por exemplo, raiva geralmente é tabu para muitas mulheres,
enquanto medo ou dor o são para homens.
Fato é que todas as emoções são agentes poderosos, tanto
para informação quanto para crescimento. O perceber e entender nossas emoções,
incluindo as desconfortáveis, faz com que, cada vez mais e melhor, possamos nos
posicionar e nos engajar em respostas de cuidado e amor, para conosco e com o
parceiro, curando e melhorando nossas relações conosco mesmos e com os outros.
Ambos os parceiros precisam explorar todas as opções para
aprender a manejar suas emoções, particularmente as mais difíceis, tipo raiva e
medo.
No próximo e final artigo, virão os demais passos a serem
dados para nos libertarmos dos padrões tóxicos. (E já não é sem tempo, digo eu.
Não me entendam mal, gosto muito desta autora, acho que ela se esforça para
esclarecer tudo ao máximo, e às vezes neurologia pode ser um pouco difícil. O
problema é que a Sra. é um tanto prolixa, e daí me sinto uma traidora,
diretamente do italiano, "tradutor, traidor", a literalmente fazer parágrafos
enormes, coisas mais sucintas. Por isso a todos, peço perdão).
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirGostei desse artigo. Me ajudou a compreender como lidamos com nossas emoções inconscientes e como reconhece-las.
ResponderExcluirAdorei muito, estava precisando dessa explicação!
ResponderExcluirOla! seu artigo foi de grande importância para esclarecer meu modo de agir diante de um relacionamento. Grata por postar esse texto tão esclarecedor.
ResponderExcluirObrigada, foi muito útil.
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