CHOVE, E ASSIM SE INICIA A QUARTA SEMANA DE QUARENTENA QUE CALHA DE SER A SEMANA SANTA
Aliás, como tem chovido!
No resumo da ópera, perdi a vergonha
de cantar sem ser em locais específicos, como chuveiro e/ou dentro de meu
carro. Agora, deu um solzinho, lá estou eu com minhas caninas no quintal,
cantando de Macarena a ópera, a plenos pulmões, jogando bola para a Brava. Só
me calo quando a Callas vai de Lucia di Lamermoor, que aí seria desrespeito, e
deixo aquela maravilha subir aos céus como oferenda. (clique aqui)
Minha vizinha, a artista
plástica e eu, desenvolvemos encontros uivantes pela cerca e à distância, de
formas que o virus não tem chance de nos alcançar nem que fosse campeão
olímpico de salto com vara. É verdade que poderiamos, calma e tranquilamente
nos comunicarmos via cel, mas essa humanidade berrante faz um bem danado,
aquece o coração. Duas perfeitas donas Xepa, versão ítalo-americana.
Também tenho passado mais tempo no Facebook do que jamais o
fiz somando todos os anos que o tenho. Fiz novos amigos sensacionais, os quais
nunca vi na vida, mas os reconheço como amigos de infância, na mesma linha que
não mais reconheço gente que conheço desde sempre.
Terminei um curso relâmpago
em Yale, via net, sobre história da idade media, alias muito a propósito dos
tempos que correm.
Reli o Nome da Rosa, Psicopatologia da Vida Cotidiana, Além
do Princípio do Prazer, Maledetti Toscani e Quando eravamo povera gente. Agora
relendo The strange order of things. A biblioteca está fechada até segunda
ordem, o tristeza, até mesmo porque não consigo apreciar leitura eletrônica, só
mesmo de jornais, e mesmo assim me dá uma saudade do estadão de domingo, a ser
lido depois da feira e do imprescindível pastel.
Pela primeira vez, pude observar o desenvolvimento da florada
do meu amarillys. Explico: tenho um no meu jardim, que foi a primeira coisa que
plantei quando mudei para esta casa, e todos os anos, ele me surpreende, ploff,
todo florido, Desta vez, consegui ver o processo todo, e é maravilhoso, um
botão se dividindo em 3, com a graça de uma bailarina.
Consegui papel higiênico na Amazon, mas só chega lá para Maio.
Preciso, com urgência, inventar uma maneira de
economizar o mesmo, e aqui mereço me dar uma estapeada, já que está
cheio de gente que nem tem mais o que comer, e com certeza, a tal da ajuda
governamental prometida, só Deus sabe quando, como e para quem chegará. Para os
bancos, Wall street e companhias de petróleo, já mandado.
Todos os dias temos a tortura de hora e meia do briefing do
Trump, que no momento está em confronto direto com o Dr. Fauci, que é
imunologista e diretor do Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas desde 1984 e conselheiro de 6
presidentes em epidemias, domésticas e globais.
Pois bem, nosso amado líder
está obcecado com a hidroxicloroquina (penso eu com meus botões que alguém da
familia dele, ou algum amigo chegado fabrica a coisa, mas não tenho, até o
momento, nenhuma evidência), e o Dr. Fauci diz e repete que não há qualquer
estudo que demonstre sua eficácia. Pior, pode ter efeitos colaterais sérios,
não é assim como, bem se não fizer bem, mal não faz. Aliás essa coisa de “se
não fizer bem, mal não faz”, é uma falácia antiga que começou com os assim
chamados “remédios naturais”, pois se é natural, mal não pode fazer. Pois é,
cicuta é naturalissima, assim como petróleo, e ninguém nunca pensou em tomar um
copinho pela manhã para lubrificar os intestinos, né não?
Pois hoje Trumpinho o magnifico, superou-se, deu um empurrão
no Dr. Fauci, e por ele respondeu a uma pergunta do reporter que não lhe era
dirigida:
Adendo: Hoje explodiu em todos os jornais a ligação perigosa
do Trump com a Sanofi, produtora da citada cloroquina. Antigamente os franceses
diziam “Cherchez la femme”,
hoje é só seguir o $.
Mas no domingo, meu mundo voltou aos eixos. Assisti o
discurso da rainha e a primeira coisa que pensei foi: “danada que está com
quase 30 anos a mais do que eu, e olha que coisa!, além do broche maravilhoso
que usava, e que a tarada por broches aqui esticou o olhão em cima.
E que
discurso! Curto, direto, no ponto. Sem baboseiras, sem agressões.
"Estou falando com vocês no que sei que é um momento
cada vez mais desafiador. Um momento de perturbação na vida de nosso país, uma
perturbação que trouxe sofrimento a alguns, dificuldades financeiras para muitos
e enormes mudanças no dia a dia de todos nós ... Espero que nos próximos anos
todos possam se orgulhar de como responderam a esse desafio. E aqueles que
vierem depois de nós dirão que os britânicos desta geração eram tão fortes
quanto todos os outros que vieram antes. ”
"Hoje, mais uma vez, muitos sentirão uma dolorosa
sensação de separação de seus entes queridos, mas agora, como então, sabemos no
fundo que é a coisa certa a fazer. Embora já tenhamos enfrentado desafios
antes, este é diferente. Desta vez, nos juntamos a todas as nações do mundo em
um esforço comum".
"O que você faz é apreciado e a cada hora de seu
trabalho duro nos aproxima mais de um retorno a tempos mais normais. Juntos,
estamos enfrentando esta doença e quero garantir que, se permanecermos unidos e
resolutos, vamos superá-la."
"Seremos bem-sucedidos e esse sucesso pertencerá a todos
nós. Devemos ter consolo para que, enquanto ainda tivermos mais o que suportar,
dias melhores retornarão. Estaremos com nossos amigos novamente. Estaremos com
nossas famílias novamente. Nós nos encontraremos novamente."
Aplaudi de pé, para espanto do
britânico residente da casa, que achava que eu não dava a minima para a
realeza, coisa na qual estava correto, mas meu aplauso tinha nada a ver com
nobrezas e que tais, tinha a ver com a grandeza dessa senhora, que, aos 14
anos,
Juro que ouvi meu sogro, lá do
além, cantar “God save the Queen”, e me lembrar de que, se ele e companheiros
puderam passar 6 anos em navios, comendo básicamente batata doce (coisa que ele
nunca mais comeu na vida), nós folgados podemos passar um tempinho com algum substituto do mais macio
e perfeito papel higiênico para nossos buzanfants.
E, apesar da postura toda dura
do ingles no sofa, eu vi sim uma lágrimazinha disfarçada escorrendo lá do olho.
E as ironias: Boris Johnson,
que retardou o mais que pode a resposta ao Covid-19 na Inglaterra, lá vai para
a UTI por causa do mesmo. Aqui no TX, uma moça muito trumpiana, que tuitou que
o Covid não precisava de isolamento, mas sim de fé e armas, morreu do mesmo
Desconfio que esse virus tem
um senso de humor distorcido.
E para alegrar os olhos, meus
amados bluebonnets, em fotos do ano passado.
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