DIETA E CÂNCER. O QUE SABER


Por mais que queiramos acreditar que um chá desintoxicante ou um super-alimento nos impedirão de contrair câncer, a verdade é mais amarga: qualquer pessoa pode ter câncer independentemente de seu estilo de vida, mas comer alimentos saudáveis e se exercitar regularmente é a melhor maneira de diminuir o risco.
Mas isso é muito menos glamuroso. Comer “saudável” é uma ideia ambígua que pode parecer apenas tangencialmente relacionada ao câncer, ao passo que comer um antioxidante que supostamente bloqueia os radicais livres parece muito mais interessante. No entanto, a verdade é que muitos casos de câncer são causados por uma dieta pobre, pelo consumo de álcool, ou estão relacionados ao excesso de peso, que acompanha uma dieta pobre.

Cerca de 2 em cada 5 de câncer (USA) são evitáveis, apenas alterando um fator de risco, do consumo de álcool à inatividade física e, claro, do tabagismo. São mais de 659.000 casos por ano. Destes, um novo estudo da revista JNCI Cancer Spectrum estima que mais de 80.000 (2015) foram atribuídos à dieta abaixo do nível ideal.

Como certos alimentos afetam meu risco de câncer?


A maioria dos problemas de dieta e câncer se concentra em sete grandes grupos de alimentos: frutas, verduras, grãos integrais, carnes processadas, carne vermelha, laticínios e bebidas adoçadas com açúcar (a ciência do açúcar é complicada, pois as frutas também têm muito açúcar), assim os pesquisadores se concentram em bebidas doces, já que são inequivocamente péssimas). A maioria dos americanos, na verdade, a maioria das pessoas ao redor do mundo, não come a quantidade certa de qualquer um desses alimentos. Consumimos muito açúcar e carne vermelha ou processada sem comer a quantidade suficiente de frutas, legumes, cereais integrais ou laticínios.
Alguns desses grupos de alimentos têm uma influência direta em nossa saúde. As fibras, nas frutas, legumes e grãos integrais, por exemplo, alimentam um microbioma intestinal importante. Carnes processadas e vermelhas contêm várias moléculas que promovem o câncer. Mas outros alimentos, como o açúcar, são indutores de câncer de uma maneira menos direta: eles nos fazem ganhar peso. As pessoas consideradas com sobrepeso podem estar perfeitamente saudáveis, mas, em média, a obesidade é acompanhada de maiores riscos à saúde, incluindo um risco maior de câncer.
Esta é uma análise mais detalhada de como esses alimentos influenciam nosso risco de câncer, cortesia do relatório completo do Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer sobre dieta e câncer. (Relatório Completo em PDF no final)



Grãos Integrais


Grãos processados, como aqueles em farinha branca, não contêm o grão integral, embora seja este que contém todos os nutrientes. Os pedaços de farelo e germe incluem nutrientes como vitamina E, cobre, zinco e selênio, além de lignanas e fitoestrogênios que os pesquisadores acham que poderiam ter propriedades anticancerígenas. Eles também estão cheios de fibras, que alimentam bactérias intestinais saudáveis, fermentam em ácidos graxos de cadeia curta que podem ajudar a prevenir o câncer e movem o conteúdo do intestino (o que pode diminuir as chances de um composto mutagênico entrar em contato com suas células intestinais).
Tudo isso contribui para um cólon saudável que tem pouca inflamação. A idéia básica a respeito de inflamação e câncer é que as reações inflamatórias têm a intenção de matar potenciais invasores como bactérias, porque, em geral, o corpo produz uma inflamação como resposta a uma ameaça. Um corte no dedo, por exemplo, tem menos probabilidade de ser infectado porque nosso organismo produz substâncias químicas que induzem mutações em patógenos potenciais, como as bactérias. Mas, essas mesmas substâncias químicas danificam as próprias células. Isso, em pequena escala, como o citado corte no dedo de quando em vez, não é problema, mas quando a inflamação se torna crônica, aí acaba promovendo o câncer.
Dietas pobres em grãos integrais tendem a promover a inflamação e lesar o intestino, e é por isso que estão primariamente associadas ao câncer colorretal.

                                                           

Lacticínios


Viemos nos acostumando a pensar em laticínios como algo ruim porque os americanos vem dizendo há décadas que fazem mal, mas a gordura não é totalmente horrivel, embora seja densa em calorias, e também há toneladas de opções de laticínios que são mais pobres em gordura e mais saudáveis. Por um lado, os laticínios são ricos em cálcio, o que a pesquisa sugere como protetor do cólon (embora não esteja claro exatamente como). E depois, há as bactérias produtoras de ácido láctico que dão ao iogurte e outros produtos lácteos fermentados seu sabor característico. Essas bactérias contribuem para o microbioma intestinal e parecem inibir a formação de câncer através de uma variedade de vias.
Todos esses fatores parecem ajudar a proteger as células do colon, evitando que se tornarem cancerosas.
Há uma desvantagem potencial para os laticínios (além da gordura saturada), que é que o alto teor de cálcio, que pode estar associado a risco ligeiramente aumentado de câncer de próstata. Maior consumo de leite tem sido associado a uma pequena elevação nos níveis de um fator de crescimento chamado IGF-1, que por sua vez está associado a um maior risco de câncer de próstata. Por esse motivo, os produtos lácteos não são frequentemente recomendados como totalmente anti-cancerígenos. Por outro lado, o cálcio também parece exercer alguns efeitos protetores ao regular os níveis de vitamina D. O risco de câncer de mama parece diminuir com maior ingestão de cálcio por esse motivo. Resumindo, para homens parece ser fator de risco, enquanto que para mulheres, fator protetor.

                                                 

Carnes processadas e vermelhas

Os efeitos carcinogênicos dessas carnes são praticamente todos ligados a três tipos de moléculas: aminas heterocíclicas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e compostos N-nitrosos. Os dois primeiros se formam nas carnes vermelhas e processadas durante cozedura a alta temperatura, enquanto o cólon produz o terceiro quando é exposto a níveis elevados de hemoferritina (que é o que dá cor à carne vermelha). As carnes processadas também contêm nitratos e nitritos, os quais podem contribuir para a formação de compostos N-nitrosos.
Essas moléculas contribuem para o risco de câncer em múltiplos órgãos, incluindo cólon, estômago e pâncreas, causando mutações nas células, que podem se acumular com o tempo.

                                               

Frutas e vegetais

Além de todos os benefícios acima mencionados quanto às fibra, frutas e vegetais também têm toneladas de nutrientes e fitoquímicos que a pesquisa sugere serem anti-tumorigênicos. Isso inclui tudo, desde carotenóides a flavonóides, até vitaminas A, C e E. Muitos dos benefícios desses compostos são direcionados aos vários elementos do trato gastrointestinal, da boca ao estômago e ao cólon. Mas também ajudam a prevenir outros, como câncer de mama, pulmão e bexiga, provavelmente pelas mesmas vias.

                                             

Bebidas açucaradas

Ao contrário do resto desses fatores dietéticos, o açúcar não tem nenhuma propriedade direta que cause ou evite o câncer. Em vez disso, contribui para promover o ganho de peso. Embora haja muitas maneiras de ficar mais saudável se a pessoa estiver com sobrepeso ou obesidade (exercícios regulares podem ajudar o metabolismo a mudar para um nível saudável para o coração, mesmo sem perda de peso), a gordura continua contribuindo para o cancer, sendo um dos métodos a inflamação . A gordura corporal induz inflamação crônica através de várias vias, incluindo a produção direta de substâncias químicas pró-inflamatórias, e está associada a níveis mais altos de insulina, que podem promover o crescimento celular excessivo que aumenta o risco de câncer.
O excesso de gordura corporal também influencia os níveis hormonais, uma vez que as células adiposas são um importante local de armazenamento de hormônios. Isto é especialmente verdadeiro para as mulheres pós-menopáusicas, que já não produzem níveis elevados de estrogénios nos seus ovários e, assim, obtêm a maior parte da exposição hormonal a partir da gordura corporal.

                                                 

Comer de forma mais saudável impede a pessoa de ter câncer?


Sim e não. Todos os mecanismos que discutimos até agora diminuem genuinamente o risco de câncer, mas também é importante saber que muito do que sabemos sobre como a nutrição influencia a saúde vem de estudos de associação. Isso significa que os pesquisadores analisam uma população para ver, por exemplo, quem come mais frutas e depois descobrir se essas pessoas têm menos doenças, como o câncer. O problema é que as pessoas que comem muitas frutas provavelmente também têm outros hábitos saudáveis, como se exercitar regularmente, e têm maior probabilidade de ter um status socioeconômico mais elevado, o que lhes proporciona melhores condições de saúde.

Isso significa que apenas tomar uma recomendação provavelmente não terá um grande impacto no risco de câncer. Podemos comer toneladas de morangos, mas se também comermos bacon todos os dias, é improvável que tenhamos um cólon saudável. Já, se formos comedores super-saudáveis, comer uma porção de bacon uma vez por semana como um deleite, não vai aumentar muito o risco de câncer. Mas,se mudarmos toda nossa dieta para mais frutas, verduras, grãos integrais e laticínios com pouca gordura e ficarmos longe de carnes vermelhas e processadas e açúcar, teremos melhor chance de permanecermos saudáveis do que se comessemos de maneira descuidada. É menos provável que se tenha câncer se não bebermos muito álcool ou fumarmos e fizermos muito exercício físico. (Não entre mem surto. Ninguém precisa passar 4 horas por dia numa academia. Meia hora por dia de andada vigorosa já ajuda demais, e se, a cada duas horas tirarmos o busanfat da cadeira e fizermos 3 minutos de alongamento, estaremos próximo do Paraiso. Por mais que odeie, tarefas domesticas como limpar a casa, contam como exercício, assim como jardinagem.)

Naturalmente, muitas pessoas seguem todas essas recomendações e ainda assim tem cancer, enquanto outras vão fumar e beber e comer doces todos os dias de suas vidas e morrer em idade madura sem nunca ter um. É importante lembrar que nenhum dos extremos desse espectro significa que as recomendações não são boas. Estatisticamente, em toda uma população, muitas dezenas de milhares de pessoas teriam câncer mesmo se todos comessem uma dieta saudável e equilibrada. Vamos lebrar que os fatores causadores de cancer vão desde genética a puro e simples azar. E, embora reduzir o consumo de açúcar e aumentar a ingestão de fibras não seja um método mágico de prevenção do câncer, uma boa nutrição definitivamente não vai nos fazer mal.

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