MÍDIAS SOCIAIS ENFURECIDAS ESTÃO DIRIGINDO A EXPLOSÃO DO FASCISMO
MÍDIAS SOCIAIS ENFURECIDAS ESTÃO DIRIGINDO A EXPLOSÃO DO
FASCISMO
Traduzi o artigo na íntegra pois fiquei tão assustada, que
precisei ler em português umas 3 vezes, para conseguir digerir, e mesmo assim foi
mais ou menos como deglutir papelão: vai arranhando tudo. Mas, assim mesmo,
amargo e azedo que é, o alerta é mais do que necessário.
“Fui surpreendido há algumas semanas por um vídeo do massacre
da mesquita da Nova Zelândia, aparecendo na minha tela,cortesia do Facebook. Realmente
não tenho linguagem para descrever sucintamente o que foi aquilo, filmado por
um "fascista" auto-descrito, na esperança de levar os espectadores ao
seu ponto de vista devastado pelo ódio, imortalizando as imagens de terror nos
rostos de suas vítimas. no segundo, em que suas vidas estavam sendo roubadas. O
assassino também usou tais imagens como um meme armado, que agora é preservado
para sempre como artefato cultural. Fazer isso foi, provavelmente, a
força motriz por trás do massacre. Esse meme visual trouxe o terrível campo de
batalha de um supremacista branco para minha casa e para as casas de milhões de
outras pessoas que, voluntária ou involuntariamente, assistiram a esse horror.
Bem-vindo à guerra mundial F.
O ARMAMENTO DAS MÍDIAS SOCIAIS, DE ISRAEL AO IRAQUE
Em 2014, a cidade de Mosul, de 2000 anos de idade, com uma
população multicultural de quase 2 milhões de pessoas, defendida por cerca de
30 mil soldados iraquianos treinados e armados pelos americanos, caiu frente a
um grupo desordenado de 800 a 1,500 pessoas mal armados (conhecidos como Daesh
ou ISIS), lutadores estes que ostentavam uma pequena frota de picapes Toyota
Hilux roubados. Mas a guerra estava essencialmente acabada antes deles chegarem:
ganha no Twitter, Facebook e YouTube, ajudada por um vídeo de propaganda que se
tornou viral, contando uma história fictícia de um exército invencível. Quando
os combatentes do ISIS avançaram em Mosul, eles postaram vídeos horripilantes
de vilarejos em seu caminho, não muito diferente daquele da Nova Zelândia, mas
recheados de decapitações.
Antes de chegar a Mosul, a hashtag #AllEyesOnISIS estava no
topo da lista de tendências de língua árabe no Twitter. O que ISIS fez nas
mídias sociais foi uma Blitzkrieg virtual ou uma campanha de choque de terror e
temor, projetando uma ilusão de força esmagadora. O resultado foi tão eficaz
quanto um verdadeiro bombardeio. Soldados iraquianos e civis em Mosul, colados
às suas pequenas telas, graças a uma nova rede de torres de celular construída
com ajuda dos EUA, entraram no buraco de medo e terror.
Assombrados pelas imagens do ISIS vencendo a batalha antes mesmo
de ser travada, quase todos os soldados iraquianos que defendiam Mossul fugiram
antes que o primeiro Toyota Hilux chegasse à cidade, deixando para trás a maior
parte de suas armas (americanas), incluindo 6 helicópteros Blackhawk e 2.300
Humvees. Então o ISIS chegou, matou os
poucos soldados e policiais restantes, e posou para selfies com seus espólios.
As imagens resultantes mostraram-se poderosas à medida que os se espalharam nas
mídias sociais, permitindo que o ISIS recrutasse 15.000 combatentes de dezenas
de países no ano seguinte à captura de Mosul. A guerra nunca mais seria a mesma.
O ISIS não inventou essa estratégia. Talvez esse crédito vá
para o exército israelense, que vinha vasculhando a mídia social desde pelo
menos 2008. Em 2012, eles levaram o jogo para nível mais alto, ao vivo,
twittando e enviando um vídeo do YouTube de um assassinato por drones contra um
líder do Hamas. Ao contrário dos soldados iraquianos em Mosul, no entanto, o
Hamas respondeu à campanha de mídia social em espécie. Ambos os lados pediram
ajuda de seus fãs da web, gerando uma pandemia de ódio on-line envolvendo
milhões de postagens.
Lá pelo final de 2012, as Forças de Defesa de Israel (IDF)
estavam realizando uma propaganda global de mídia social, unindo-se às
operações em todas as principais plataformas. Hoje, os soldados israelenses
modernos completam seu serviço militar obrigatório como parte da Rede
Internacional de Mídias Sociais da IDF, vigiando, por exemplo, estudantes
universitários americanos que apoiam movimentos pelos direitos dos palestinos, como
boicote, desinvestimento e sanções.
FANTOCHES, BOTNETS E TROLLS
Em 2016, propagandistas sofisticados, utilizando algoritmos
de inteligência artificial impulsionados por um número aparentemente ilimitado
de dados sobre os usuários da internet, revolucionaram as campanhas de operações
psicologicas baseadas em mídias sociais. E agora temos novas palavras em nosso
vocabulário, tal como “sockpuppet”(fantoche). Esse é um guerreiro humano da
Internet que pretende ser todo tipo de coisas que não é, como o sockpuppet
operando em St. Petersburg, Rússia, que formou e facilitou o grupo no Twitter,
"@Ten_GOP", falso grupo não oficial do Twitter dos republicanos do
Tennessee, que espalhou memes de desinformação e histórias incendiárias,
incluindo 3.107 de suas próprias mensagens de psych-ops, enquanto identificaram
136.000 seguidores para usar como vetores virais, retweetando as mensagens de
St. Petersburg 1.213.505 vezes.
Outra famosa sockpuppet, a fictícia Jenna Abrams, tornou-se
uma favorita dos meios de comunicação americanos. Descrita pelo The Guardian
como uma estrela do Twitter totalmente defensora da segregação, apoiadora da
segregação e amante dos Trump, Jenna parece ser outra criação de São
Petersburgo. Como tal, "ela" foi citada pelo The New York Times, The
Washington Post, The Huffington Post, EUA Today, BET, The New York Daily News e
uma série de outros. Uma vez estabelecida como jovem estrela do Twitter,
amável, gentil, espirituosa e confiável, o repertório “dela” tornou-se
socialmente tóxico, capacitando milhões de outros racistas nas mídias sociais.
Depois, há os bots, que são versões robóticas dos sockpuppets,
e vêm completos com identidades fabricadas, como o angolano AngeeDixson, um
defensor norte-americano dos confederados, e que foi exposto pela ProPublica
como um bot russo. Alimentado pela inteligência artificial, bots como este se
engajaram com sucesso em trolls humanos. Como candidato presidencial, Donald
Trump citou esse bots 150 vezes.
QUANDO OS BOTS TWEETAM
Os maiore atores nos campos de batalha da Guerra Mundial F,
como Rússia, Israel e China, tendem a dominar nossa discussão nacional com
propaganda on-line.
Eles são os elefantes virtuais, gigantes pesadões impossíveis
de não serem notados. Os israelenses usaram brilhantes anúncios para recrutar commandos
pelas mídias sociais, enquanto os russos, apesar de toda sua sofisticação, se
esconderam mal, com um bando de sockpuppets investigando jornalistas
investigativos, procurando por seu paradeiro, só que mantendo horários russos.
Nós, americanos, certamente não podemos revindicar nenhuma moralidade superior
contra os russos, porque, tudo o que eles estão sendo acusados de fazer, nós
fizemos primeiro, e com mais sucesso, usando a tecnologia da velha escola nos
anos 80, e desde então, nos intrometendo em suas eleições, levando Putin ao
poder devido a nosso apoio à epitome da incompetência, o Boris Yeltsin.
As principais potências mundiais têm. Historicamente, se
estapeado umas às outras com propaganda, fácil de identificar. Os russos também
são suspeitos de usar seu exército de sockpuppets para promover oBrexit, mas um
estudo do Oxford Internet Institute afirma que, embora eles tivessem explorado
o Twitter e o Facebook durante as eleições de 2016 nos USA, não há evidências
de que fez o mesmo com o Brexit. E, enquanto a França quer destruir o popular
Movimento Colete Amarelo com acusações de apoio russo nefasto, ainda não há
muitas evidências para apoiar essa afirmação. Pesquisadores do Projeto de
Pesquisa de Propaganda Computacional da Universidade de Oxford argumentam que,
enquanto os governos espiam a política interna de outras nações, os regimes
autoritários se concentram principalmente em atingir suas próprias populações,
com bots controlando, por exemplo, 45% da atividade do Twitter na Rússia. A
reação de Mark Zuckerberg às reclamações sobre a propaganda no Facebook é
exigir mais controle do governo pela internet. O lamber botas dos
governos, dessa forma e não por coincidência, manteria os mercados globais
abertos para o Facebook, ao mesmo tempo em que fortaleceria o poder de
propaganda dos governos e impediria quaisquer surtos mais desagradáveis de
democracia, como a Primavera Árabe.
TEMA-SE
Embora os regimes autoritários usem campanhas de propaganda
nas mídias sociais para atingir suas próprias populações, os pesquisadores de
Oxford argumentam que “quase todas as democráticias nesta amostra, organizaram
campanhas de mídia social voltadas para públicos estrangeiros”, deixando o foco
de suas próprias populações para as campanhas suportadas por partidos politicos.
Olhando em retrospective para nossas preocupações sobre as
nossas eleições de 2016 e 2018, enquanto a interferência russa era real e
documentada, o seu impacto empalideceu em comparação com as campanhas de
propaganda mais eficazes lançadas por Breitbart e Fox. Nosso foco míope nos horriveis
socketpuppets da Rússia, nos distraiu dos maiores jogadores em campo. A Guerra
Mundial F é global, mas se você realmente quiser temer alguém, tema seus
compatriotas americanos.
Batalhas de desinformação de estado para estado não são a
maior ameaça na Guerra Mundial F. Os estados, nos Estados Unidos, quase por
definição, são inerentemente corruptos. Eles competem por vantagens e estão
sempre dispostos a comprometer seus valores declarados ou a comprar-se uns aos
outros, porque eles têm muito dinheiro investido na manutenção de um status quo
ordenado do comércio e do sistema bancário. No final do dia, eles geralmente
não querem explodir o mundo. Em contrapartida, as políticas econômicas
Reagan-Bush-Clinton-Bush-Obama-Trump, esvaziaram grande parte dos EUA, deixando
as comunidades economicamente desprivilegiadas e povoadas por pessoas
enfurecidas, envenenadas pelo desespero e vulneráveis a líderes autoritários e
fascistas, habilitados a implantar propaganda de precisão para canalizar essa
raiva. Infelizmente, isso é o que a mídia social faz de melhor.
É mais provável que as pessoas compartilhem e reajam
visceralmente a coisas que as irritam ou amedrontam, ao contrário de coisas que
as inspirem ou dem esperança. Os propagandistas sabem disso. E apesar de
condenar seus próprios papéis na disseminação do ódio e do fascismo, os
executivos de mídias sociais também entendem que seu modelo de negócios é
baseado em cliques, e os inimigos são os mais vorazes clicadores. Executivos de
mídia social parecem negligentes em mexer com essa métrica, a menos que sejam
forçados. Talvez seja por isso que o Facebook demorou até março de 2019 para
banir o nacionalismo branco, 70 anos após o fim dos julgamentos de Nuremberg.
GUERRA FASCITA NA REALIDADE EMPÍRICA
A mídia social agora dá aos idiotas que costumavam viver em
isolamento, a fervilhante capacidade de
criar uma comunidade online, como os futuristas prometeram. Nutridos pela
comunidade, os odiadores se capacitam mutuamente e fazem do ódio parte do
discurso dominante. Os silos de mídia social orientados por algoritmos
organizam mundos personalizados onde o ódio se espalha entre pessoas que passam
a vida espalhando-o. De islamofóbicos a supremacistas brancos a “incels”
(autodescritos misóginos “involuntários celibatários” que acreditam ter direito
a sexo com mulheres) ao ISIS, as mídias sociais amplificam as vozes mais feias
e estridentes, entregando-as aos quartos de nossos filhos. Esta é a Guerra
Mundial F.
Mas, acima de tudo, a Guerra Mundial F é sobre besteira. Mais
americanos agora afirmam receber suas notícias no Facebook do que em qualquer
outro local. Durante a temporada eleitoral de 2016, sites fraudulentos e publicações
fascistas receberam mais leituras no Facebook do que os 19 principais sites de
notícias que relataram realidade verificável juntos.
Falsidades são a moeda do fascismo. Para regimes autoritários
corruptos, a verdade é o inimigo: a verdade é a arma que, quando exercida, os destroy,
e por isso, para os autoritários, em primeiro lugar, a verdade tem que ser
destruída. Isso é o centro da Guerra Mundial F.
A Guerra Mundial F é uma guerra à realidade empírica. Desconstruidos
por qualquer pretensão à precisão, os memes armados são projetados para excitar
e incitar enquanto envenenam democracias com desinformação. A segmentação
algorítmica, juntamente com o levantamento e análise de dados, permite que
mentirosos segmentem pessoas com propaganda psico-projetada apenas para você. E
eles podem direcionar micro-alvos às pessoas mais propensas a acreditar em suas
mentiras.
Sem uma realidade compartilhada, não podemos mais nos engajar
nas discussões e deliberações fundamentadas que sustentam a democracia. Quando
a razão dá lugar à raiva, as pessoas navegam unicamente pela emoção, e muitas
começam a falar a linguagem do fascismo.
Esta é a Guerra Mundial F. É uma falsa realidade alimentada
pelos 3 Fs: Facebook, Fascismo e Fraude. Entrou em nossas casas, está brilhando
em nossas mãos, nos deu Donald Trump, Sean Hannity, Sarah Huckabee Sanders,
Jair Bolsonaro, Viktor Orbán e Alex Jones, e isso nos diz que estamos fudidos.
Esta é a Guerra Mundial F. Se conquistar a realidade, não temos mais onde lutar.”
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