O QUE FAZ AS PESSOAS SEREM MÁS?
“A triste verdade é que a maior parte do mal é praticado por pessoas que nunca se decidiram a respeito de serem boas ou más.”Hannah Arendt.
Desde tempos imemoriais, o mal nos fascina. Foi descrito em prosa e verso, em todas as culturas e religiões conhecidas. Os têrmos “psicopata”, “sociopata”, viraram mais comuns em conversas do que receita de canja para curar todas as gripes. Grudamos na TV para assistir caças a assassinos em série, assistirmos filmes como “O silêncio dos inocentes”, Atração Fatal”, “Psicose”, isso só dos que lembrei assim de cara, elegemos Hitler como o rei de todos os males, mas nunca citamos Stalin, que matou o dobro de seu próprio povo, e esta sempre foi uma curiosidade mórbida de minha parte, e que nada tem a ver com o assunto agora. Pois voltemos ao mal. Foi a semana em que explodiram no mundo relatorios diversos sobre torturas, aqui nos USA, do que a CIA aprontou nos anos Bush/Chenney e aí no Brasil, nos anos da Ditadura Militar, e os “valentes”soldados da ISIS decapitando a vivo e a cores mulheres e jornalistas e parlamentares prepotentes decidindo merecimentos de estupro. E atacou-me a idéia de reler a Hannah Arendt, fato complicado por ter deixado todos os livros dela no Brasil, e resolvido pelo uso de Google Scholar, o maravilha! O livro básico dela “A condição humana”, pode ser baixado direto no Google play. E, em lá estando, eis que me aparece outro livro “O efeito Lúcifer”, do Philip Zimbardo. Para quem não se recorda, citado indivíduo é psicologo, professor emérito da Stanford University e autor do famosissimo estudo “Experimento de Prisão em Stanford”, em 1971. Tal estudo foi feito com 24 rapazes, todos estudantes, aos quais foram dados, assim por sorteio, os papeis de “presos”ou “guardas”numa prisão montada no departamento de psicologia da faculdade. Era para ter durado 2 semanas e foi terminado depois de 6 dias, devido às reações e comportamentos extremos dos participantes. Os “guardas”,começaram a mostrar comportamento sádico e cruel para com os “prisioneiros” e os “prisioneiros” a ficar deprimidos e desesperados.
Tal estudo continua a ser básico na compreensão de como, forças situacionais atuam no comportamento humano, e Zimbardo continua firme e forte ensinando, escrevendo, e foi figura importante no levantamento das torturas citadas no relatório do Congresso aqui.
No livro, levanta e desenvolve a hipótese do bem e do mal que existe em todos nós, e da decisão a respeito, usando a figura de Lúcifer. Como todos sabemos, era o anjo preferido de Deus e seu nome significa “luz”, ou “estrêla da manhã”, a depender da escritura. Desobedeceu a Deus, figura máxima de autoridade, e foi lançado ao inferno pelo arcanjo Miguel (que cá entre nós deve ter tido enorme fetiche em expulsar as pessoas do paraíso, desde que sempre era encarregado da tarefa), tornando-se Satã, ou o demônio, ou a encarnação de todo o mal. E é esse arco de transformação cósmica, de preferido de Deus, para Diabo é o que, para Zimbardo, define o contexto para a compreensão dos seres humanos que são transformados de pessoas comuns, boas, em perpetradores do mal. Sua definição psicológica : O MAL É O EXERCÍCIO DE PODER. O PODER DE FERIR PESSOAS FÍSICAMENTE, DESTRUIR PESSOAS OU IDÉIAS E COMETER CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.
Resumo abaixo uma palestra recentissima dele, em TED talks, onde explora o conceito.
“Alguns anos atrás, fiquei chocado com a revelação de soldados americanos abusando de prisioneiros em Abu Graibe, no Iraque. Homens e mulheres submetendo prisioneiros a humilhações inacreditáveis. Fiquei chocado, mas não surpreso porque havia visto os mesmos paralelos visuais quando era superintendente prisional do estudo da prisão de Stanford. Imediatamente, os administradores governamentais vieram a público dizer o que dizem todas as administrações, quando há um escandalo: “Não nos culpem. Não é o sistema. São algumas maçãs podres.” Minha hipótese é que não eram as maçãs, mas sim o barril que estava podre.E me tornei testemunha especializada para um dos guardas, sargento Chip Frederick, de formas que tive acesso a todos os relatorios investigativos e a 1000 fotografias. Todas as fotos eram de natureza violenta e/ou sexual e todas vieram de celulares ou máquinas fotograficas de soldados americanos. E todas, absolutamente todas, ocorreram num só lugar, pavilhão 1 A, turno da noite. Por que? O pavilhão 1 A era o centro da Inteligência Militar.O centro de Interrogatórios. A CIA, os interrogadores da Titan Corporation, todos lá, e não estavam conseguindo nenhuma informação sobre a insurreição. Então, começaram a pressionar os soldados da noite, que nunca haviam tido nenhum treino militar, pois todos eram reservistas da Policia Militar, para que “amaciassem”os presos, para abalar a moral dos inimigos para prepará-los para interrogatorio.Pelo menos, estes foram os eufemismos usados.
Numa das fotos, que é um prisioneiro de capuz, de braços abertos e que deu volta ao mundo, o prisioneiro era doente mental. Cobria-se de fezes todos os dias, e os guardas faziam com que ele rolasse na terra para que não cheirasse mal. O que ele estava fazendo naquela prisão, ao invés de estar em um hospital psiquiatrico? O que aconteceu, para tornar pessoas normais, e teoricamente boas, em torturadores?
Em psicologia, abordamos tais transformações do caráter humano, usualmente sob o ponto de vista DISPOSICIONAL, no qual se olha para o que está dentro das pessoas, é a teoria das maçãs podres e base de todas as ciências sociais, religiões e guerras. E paramos aí, a olhar para as maças podres e esquecemos de pensar na causa do apodrecimento delas. Onde estão contidas? O grande ponto que descobri quando me tornei testemunha especialista, foi que o poder está no sistema. O sistema cria situações que corrompem o indivíduo, e o sistema é o arcabouço legal, político e cultural que produz os barris podres. Assim, se quisermos mudar uma pessoa, temos que mudar a situação, e se se quer mudar uma situação, há de se saber onde está o poder, como tão bem foi demonstrado pelo estudo de Stanley Milgram, que saiu perguntando se o Holocausto poderia acontecer aqui e agora, e todo mundo dizendo, não claro que não, que absurdo.E foi em frente, perguntando, “sim, mas se Hitler pedisse a você, você eletrocutaria uma pessoa?”Não, eu sou boa pessoa”, responderam todos.Então Milgran foi em frente e montou um estudo com 1000 pessoas comuns, idade entre 20 e 50 anos e a essas pessoas foi dito que era um estudo sobre memória, que queriam entender como funcionava a memória pois esta era a chave para o sucesso.Os participantes do estudo ganharam 5 dolares pelo seu tempo. Por sorteio, as pessoas foram divididas entre “aprendizes” e “professores”. Os aprendizes eram amarrados num aparato parecendo uma cadeira elétrica, com um dial para choques que ia de 15 a 450 watts. Não hávia choque nenhum, mas isso, os “professores”, aos quais foi dado um jaleco branco, não sabiam. Aos “aprendizes”foi ensinado berrar, pedir para sair, dizer que tinham problemas cardíacos, na medida que o botão aumentasse a intensidade.
Antes de começar o estudo, perguntou a 40 psiquiatras “Que percentual desses cidadãos americanos irá até o fim?” Resposta: “Apenas 1%, porque isso é comportamento sádico e sabe-se que só 1% dos americanos são sádicos”.
Alguns dos “professores”, antes de começar o experimento, estavam preocupados, com perguntais tais como: “Quem será responsável se algo acontecer a eles?” e Milgram respondeu a todos que o único responsável era ele mesmo. (E aqui faço um parêntese para fazer notar que nenhum dos “professores”se recusou a participar da coisa, o que nos faz pensar que o mal começa com 5 dolares e 15 watts).
Resultados da pesquisa (que incluiu mais 15 estudos):
2/3 foram até o fim dos 450 watts, independentemente dos uivos dos “aprendizes”.
Quando um “professor”via outro ir até o fim, havia 90% de chances de fazer a mesma coisa.
Se 1 se rebelar, 90% se rebelam.
Não há diferença no comportamento entre homens e mulheres.
Ou seja, Milgram quantificou o mal como A PROPENSÃO DAS PESSOAS A OBEDECER CEGAMENTE À AUTORIDADE, girando o botão até o máximo.Girar o botão no sentido de tornar todo mundo obediente.
Ora, dirão vocês, quais são os paralelos no mundo real? Sabemos que toda a pesquisa é artificial.
Em 1978, 912 cidadãos americanos se suicidaram ou foram mortos pela família, nas selvas da Guiana, por obedecerem a seu pastor, Reverendo Jim Jones.Efeito Lúcifer moderno, um homem de Deus que se torna o Anjo da Morte.
É o que provou o estudo da prisão de Stanford.Nós sabiamos que não havia diferenças entre os garotos que seriam guardas e os que seriam prisioneiros, meninos perfeitamente saudáveis, que colapsaram em menos de 6 dias. Cinco dos garotos tiveram colapsos emocionais. A coisa tinha saido do contrôle e eu não sabia.
John Watson, antropólogo, fez um estudo intercultural interessantissimo, a respeito de guerreiros, batalhas e roupas. Na maioria das culturas, os guerreiros se vestem para a batalha, mas há algumas culturas nas quais os guerreiros vão do jeito que estão, sem nada especial. Pois descobriu ele que, dentre os que não mudavam sua aparência, apenas 1 em 8 mata, tortura ou mutila.Se mudam a aparência, 12 em 13, ou seja, 90%, mata, tortura, mutila.
Então, quais são os processos sociais que lubrificam a ladeira escorregadia do mal?
Displicentemente, dar o primeiro passo.
Desumanização do outro.
De-individualização do indivíduo.
Difusão da responsabilidade pessoal.
Obediência cega à autoridade.
Conformismo, sem crítica, às regras do grupo.
Tolerância passiva ao mal, pela inação ou diferença.
Então, precisamos de uma mudança de paradigma. Precisamos abandonar a idéia médica/psicológica de focar no indivíduo. A mudança é no sentido de um modêlo de saúde pública que reconheça os vetores situacionais e sistemicos da doença.
PREPOTÊNCIA É UMA DOENÇA
PRECONCEITO É UMA DOENÇA
VIOLÊNCIA É UMA DOENÇA
E desde a Inquisição, temos tratado da coisa a nível individual. E sabem de uma coisa? Não funciona. Alexander Solzhenitsyn diz que a linha entre o bem e o mal atravessa o coração de cada ser humano. Isso significa que a linha não está lá fora. Essa é uma decisão que você tem de tomar. É uma coisa pessoal.Heroísmo é o antídoto para o mal. É o promover a imaginação heróica, especialmente em nossos filhos, e em nosso sistema educacional.Queremos que as crianças pensem, eu sou o herói esperando, esperando que situação certa apareça, e eu vou agir heroicamente. Heroísmo é quando pessoas comuns fazem coisas heróicas. É o contraponto para A Banalidade do Mal, de Hannah Arendt. Nossos heróis sociais tradicionais estão errados, porque eles são as exceções. Eles organizam sua vida inteira em torno disto. É por isso que conhecemos seus nomes. E os heróis de nossos filhos são também exemplos para eles, porque eles têm talentos sobrenaturais. Queremos que nossos filhos percebam que a maioria dos heróis são pessoas do dia-a-dia, e o ato heróico é raro. Este é Joe Darby. É o cara que acabou com os abusos em Abu Grabi,,porque quando viu aquelas imagens, as entregou para um oficial da corregedoria. Era um soldado de baixa patente e parou isso. Era um herói? Não. Teve que se esconder, porque as pessoas queriam matá-lo, e matar sua mãe e sua esposa. A família se escondeu por 3 anos. Heroína é a mulher que interrompeu o Estudo da Prisão de Stanford. Eu era o superintendente da prisão. Eu não sabia que estava fora de controle, estava totalmente indiferente. Ela apareceu, viu aquele hospício e disse, "Sabe de uma coisa, é terrível o que está fazendo com esses garotos. Eles não são prisioneiros, eles não são guardas, eles são garotos, e você é responsável." E eu acabei com o estudo no dia seguinte. A boa notícia é que eu me casei com ela no ano seguinte. Eu apenas caí na real, obviamente.Mas o ponto é: a mesma situação que pode inflamar a imaginação hostil em alguns de nós, que nos faz perpetradores do mal, pode inspirar a imaginação heróica em outros. É a mesma situação. E você está de um lado ou de outro. A maioria das pessoas são culpadas do mal da inação, porque suaa mães lhes disseram: "Não se envolva, cuide da sua vida." E você tem de dizer, "Mãe, a humanidade é parte da minha vida.".Então a psicologia do heroísmo é como incentivamos crianças para o caminho do novo herói, é ensiná-los habilidades. Para ser um herói você tem de aprender a ser um divergente, porque está sempre indo contra a conformidade do grupo. Heróis são pessoas comuns cujas ações sociais são extraordinárias. São pessoas que agem. As chaves para o heroísmo são:
1-Agir quando outras pessoas são passivas.
2- Agir de modo sociocêntrico, não egocêntrico.
Mostro o exemplo de Wesley Autrey, herói do metrô de Nova York. Um afro-americano de 50 anos, trabalhador de construção. Ele estava esperando no metrô em Nova York; um homem branco cai nos trilhos. O vagão do metrô está chegando. Havia 75 pessoas lá. Sabem o que aconteceu? Elas paralisaram. Ele tinha um motivo para não se envolver. Ele é negro, o cara é branco, e ele tem dois filhos pequenos. Entretanto, ele deixa seus filhos com um estranho, salta nos trilhos, coloca o cara entre os trilhos, deita sobre ele, o metrô passa por cima dele. Wesley e o cara: meio metro de altura. O trem passa dois centímetros acima. Um centímetro teria arrancado sua cabeça. E ele diz "Eu fiz o que qualquer um poderia fazer," não é grande coisa pular nos trilhos.O imperativo moral é "Eu fiz o que qualquer um deveria ter feito."
Então um dia, você estará em uma nova situação. Siga um caminho e será o perpetrador do mal. Mal, significa que você será Arthur Anderson. Você vai trapacear, você vai permitir prepotência, prconceito e violência, culpado do mal de inação passiva.
Ou se torna um herói, esperando pela situação certa aparecer, para por a imaginação heróica em ação. Vamos nos opor ao poder dos maus sistemas em casa e no mundo, e vamos focar no positivo. Advogar o respeito da dignidade pessoal, a justiça e paz, coisa que, infelizmente, nossos governos não tem feito.”
Estou feliz de ter tido a oportunidade de rever tudo isso. Me faz pensar que, mesmo quando tudo parece que sofreu um retrocesso à Idade Média, há focos de luz, que ninguém extingue, por mais que tentem. É a força de Prometeu, a mais bela das histórias na mitologia grega, e meu primeiro herói.
LAS FLORES DEL MAL file:///C:/Users/Patrizia/Downloads/As%20%20Flores%20do%20Mal%20-%20Charles%20Baudelaire.pdf
PROMETEU ACORRENTADO http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/prometeu.pdf
THE MILGRAM OBBEDIENCE EXPERIMENT http://psychology.about.com/od/historyofpsychology/a/milgram.htm
ZIMBARDO - STANFORD PRISION EXPERIMENT http://www.simplypsychology.org/zimbardo.html
Desde tempos imemoriais, o mal nos fascina. Foi descrito em prosa e verso, em todas as culturas e religiões conhecidas. Os têrmos “psicopata”, “sociopata”, viraram mais comuns em conversas do que receita de canja para curar todas as gripes. Grudamos na TV para assistir caças a assassinos em série, assistirmos filmes como “O silêncio dos inocentes”, Atração Fatal”, “Psicose”, isso só dos que lembrei assim de cara, elegemos Hitler como o rei de todos os males, mas nunca citamos Stalin, que matou o dobro de seu próprio povo, e esta sempre foi uma curiosidade mórbida de minha parte, e que nada tem a ver com o assunto agora. Pois voltemos ao mal. Foi a semana em que explodiram no mundo relatorios diversos sobre torturas, aqui nos USA, do que a CIA aprontou nos anos Bush/Chenney e aí no Brasil, nos anos da Ditadura Militar, e os “valentes”soldados da ISIS decapitando a vivo e a cores mulheres e jornalistas e parlamentares prepotentes decidindo merecimentos de estupro. E atacou-me a idéia de reler a Hannah Arendt, fato complicado por ter deixado todos os livros dela no Brasil, e resolvido pelo uso de Google Scholar, o maravilha! O livro básico dela “A condição humana”, pode ser baixado direto no Google play. E, em lá estando, eis que me aparece outro livro “O efeito Lúcifer”, do Philip Zimbardo. Para quem não se recorda, citado indivíduo é psicologo, professor emérito da Stanford University e autor do famosissimo estudo “Experimento de Prisão em Stanford”, em 1971. Tal estudo foi feito com 24 rapazes, todos estudantes, aos quais foram dados, assim por sorteio, os papeis de “presos”ou “guardas”numa prisão montada no departamento de psicologia da faculdade. Era para ter durado 2 semanas e foi terminado depois de 6 dias, devido às reações e comportamentos extremos dos participantes. Os “guardas”,começaram a mostrar comportamento sádico e cruel para com os “prisioneiros” e os “prisioneiros” a ficar deprimidos e desesperados.
Tal estudo continua a ser básico na compreensão de como, forças situacionais atuam no comportamento humano, e Zimbardo continua firme e forte ensinando, escrevendo, e foi figura importante no levantamento das torturas citadas no relatório do Congresso aqui.
No livro, levanta e desenvolve a hipótese do bem e do mal que existe em todos nós, e da decisão a respeito, usando a figura de Lúcifer. Como todos sabemos, era o anjo preferido de Deus e seu nome significa “luz”, ou “estrêla da manhã”, a depender da escritura. Desobedeceu a Deus, figura máxima de autoridade, e foi lançado ao inferno pelo arcanjo Miguel (que cá entre nós deve ter tido enorme fetiche em expulsar as pessoas do paraíso, desde que sempre era encarregado da tarefa), tornando-se Satã, ou o demônio, ou a encarnação de todo o mal. E é esse arco de transformação cósmica, de preferido de Deus, para Diabo é o que, para Zimbardo, define o contexto para a compreensão dos seres humanos que são transformados de pessoas comuns, boas, em perpetradores do mal. Sua definição psicológica : O MAL É O EXERCÍCIO DE PODER. O PODER DE FERIR PESSOAS FÍSICAMENTE, DESTRUIR PESSOAS OU IDÉIAS E COMETER CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.
Resumo abaixo uma palestra recentissima dele, em TED talks, onde explora o conceito.
“Alguns anos atrás, fiquei chocado com a revelação de soldados americanos abusando de prisioneiros em Abu Graibe, no Iraque. Homens e mulheres submetendo prisioneiros a humilhações inacreditáveis. Fiquei chocado, mas não surpreso porque havia visto os mesmos paralelos visuais quando era superintendente prisional do estudo da prisão de Stanford. Imediatamente, os administradores governamentais vieram a público dizer o que dizem todas as administrações, quando há um escandalo: “Não nos culpem. Não é o sistema. São algumas maçãs podres.” Minha hipótese é que não eram as maçãs, mas sim o barril que estava podre.E me tornei testemunha especializada para um dos guardas, sargento Chip Frederick, de formas que tive acesso a todos os relatorios investigativos e a 1000 fotografias. Todas as fotos eram de natureza violenta e/ou sexual e todas vieram de celulares ou máquinas fotograficas de soldados americanos. E todas, absolutamente todas, ocorreram num só lugar, pavilhão 1 A, turno da noite. Por que? O pavilhão 1 A era o centro da Inteligência Militar.O centro de Interrogatórios. A CIA, os interrogadores da Titan Corporation, todos lá, e não estavam conseguindo nenhuma informação sobre a insurreição. Então, começaram a pressionar os soldados da noite, que nunca haviam tido nenhum treino militar, pois todos eram reservistas da Policia Militar, para que “amaciassem”os presos, para abalar a moral dos inimigos para prepará-los para interrogatorio.Pelo menos, estes foram os eufemismos usados.
Numa das fotos, que é um prisioneiro de capuz, de braços abertos e que deu volta ao mundo, o prisioneiro era doente mental. Cobria-se de fezes todos os dias, e os guardas faziam com que ele rolasse na terra para que não cheirasse mal. O que ele estava fazendo naquela prisão, ao invés de estar em um hospital psiquiatrico? O que aconteceu, para tornar pessoas normais, e teoricamente boas, em torturadores?
Em psicologia, abordamos tais transformações do caráter humano, usualmente sob o ponto de vista DISPOSICIONAL, no qual se olha para o que está dentro das pessoas, é a teoria das maçãs podres e base de todas as ciências sociais, religiões e guerras. E paramos aí, a olhar para as maças podres e esquecemos de pensar na causa do apodrecimento delas. Onde estão contidas? O grande ponto que descobri quando me tornei testemunha especialista, foi que o poder está no sistema. O sistema cria situações que corrompem o indivíduo, e o sistema é o arcabouço legal, político e cultural que produz os barris podres. Assim, se quisermos mudar uma pessoa, temos que mudar a situação, e se se quer mudar uma situação, há de se saber onde está o poder, como tão bem foi demonstrado pelo estudo de Stanley Milgram, que saiu perguntando se o Holocausto poderia acontecer aqui e agora, e todo mundo dizendo, não claro que não, que absurdo.E foi em frente, perguntando, “sim, mas se Hitler pedisse a você, você eletrocutaria uma pessoa?”Não, eu sou boa pessoa”, responderam todos.Então Milgran foi em frente e montou um estudo com 1000 pessoas comuns, idade entre 20 e 50 anos e a essas pessoas foi dito que era um estudo sobre memória, que queriam entender como funcionava a memória pois esta era a chave para o sucesso.Os participantes do estudo ganharam 5 dolares pelo seu tempo. Por sorteio, as pessoas foram divididas entre “aprendizes” e “professores”. Os aprendizes eram amarrados num aparato parecendo uma cadeira elétrica, com um dial para choques que ia de 15 a 450 watts. Não hávia choque nenhum, mas isso, os “professores”, aos quais foi dado um jaleco branco, não sabiam. Aos “aprendizes”foi ensinado berrar, pedir para sair, dizer que tinham problemas cardíacos, na medida que o botão aumentasse a intensidade.
Antes de começar o estudo, perguntou a 40 psiquiatras “Que percentual desses cidadãos americanos irá até o fim?” Resposta: “Apenas 1%, porque isso é comportamento sádico e sabe-se que só 1% dos americanos são sádicos”.
Alguns dos “professores”, antes de começar o experimento, estavam preocupados, com perguntais tais como: “Quem será responsável se algo acontecer a eles?” e Milgram respondeu a todos que o único responsável era ele mesmo. (E aqui faço um parêntese para fazer notar que nenhum dos “professores”se recusou a participar da coisa, o que nos faz pensar que o mal começa com 5 dolares e 15 watts).
Resultados da pesquisa (que incluiu mais 15 estudos):
2/3 foram até o fim dos 450 watts, independentemente dos uivos dos “aprendizes”.
Quando um “professor”via outro ir até o fim, havia 90% de chances de fazer a mesma coisa.
Se 1 se rebelar, 90% se rebelam.
Não há diferença no comportamento entre homens e mulheres.
Ou seja, Milgram quantificou o mal como A PROPENSÃO DAS PESSOAS A OBEDECER CEGAMENTE À AUTORIDADE, girando o botão até o máximo.Girar o botão no sentido de tornar todo mundo obediente.
Ora, dirão vocês, quais são os paralelos no mundo real? Sabemos que toda a pesquisa é artificial.
Em 1978, 912 cidadãos americanos se suicidaram ou foram mortos pela família, nas selvas da Guiana, por obedecerem a seu pastor, Reverendo Jim Jones.Efeito Lúcifer moderno, um homem de Deus que se torna o Anjo da Morte.
É o que provou o estudo da prisão de Stanford.Nós sabiamos que não havia diferenças entre os garotos que seriam guardas e os que seriam prisioneiros, meninos perfeitamente saudáveis, que colapsaram em menos de 6 dias. Cinco dos garotos tiveram colapsos emocionais. A coisa tinha saido do contrôle e eu não sabia.
John Watson, antropólogo, fez um estudo intercultural interessantissimo, a respeito de guerreiros, batalhas e roupas. Na maioria das culturas, os guerreiros se vestem para a batalha, mas há algumas culturas nas quais os guerreiros vão do jeito que estão, sem nada especial. Pois descobriu ele que, dentre os que não mudavam sua aparência, apenas 1 em 8 mata, tortura ou mutila.Se mudam a aparência, 12 em 13, ou seja, 90%, mata, tortura, mutila.
Então, quais são os processos sociais que lubrificam a ladeira escorregadia do mal?
Displicentemente, dar o primeiro passo.
Desumanização do outro.
De-individualização do indivíduo.
Difusão da responsabilidade pessoal.
Obediência cega à autoridade.
Conformismo, sem crítica, às regras do grupo.
Tolerância passiva ao mal, pela inação ou diferença.
Então, precisamos de uma mudança de paradigma. Precisamos abandonar a idéia médica/psicológica de focar no indivíduo. A mudança é no sentido de um modêlo de saúde pública que reconheça os vetores situacionais e sistemicos da doença.
PREPOTÊNCIA É UMA DOENÇA
PRECONCEITO É UMA DOENÇA
VIOLÊNCIA É UMA DOENÇA
E desde a Inquisição, temos tratado da coisa a nível individual. E sabem de uma coisa? Não funciona. Alexander Solzhenitsyn diz que a linha entre o bem e o mal atravessa o coração de cada ser humano. Isso significa que a linha não está lá fora. Essa é uma decisão que você tem de tomar. É uma coisa pessoal.Heroísmo é o antídoto para o mal. É o promover a imaginação heróica, especialmente em nossos filhos, e em nosso sistema educacional.Queremos que as crianças pensem, eu sou o herói esperando, esperando que situação certa apareça, e eu vou agir heroicamente. Heroísmo é quando pessoas comuns fazem coisas heróicas. É o contraponto para A Banalidade do Mal, de Hannah Arendt. Nossos heróis sociais tradicionais estão errados, porque eles são as exceções. Eles organizam sua vida inteira em torno disto. É por isso que conhecemos seus nomes. E os heróis de nossos filhos são também exemplos para eles, porque eles têm talentos sobrenaturais. Queremos que nossos filhos percebam que a maioria dos heróis são pessoas do dia-a-dia, e o ato heróico é raro. Este é Joe Darby. É o cara que acabou com os abusos em Abu Grabi,,porque quando viu aquelas imagens, as entregou para um oficial da corregedoria. Era um soldado de baixa patente e parou isso. Era um herói? Não. Teve que se esconder, porque as pessoas queriam matá-lo, e matar sua mãe e sua esposa. A família se escondeu por 3 anos. Heroína é a mulher que interrompeu o Estudo da Prisão de Stanford. Eu era o superintendente da prisão. Eu não sabia que estava fora de controle, estava totalmente indiferente. Ela apareceu, viu aquele hospício e disse, "Sabe de uma coisa, é terrível o que está fazendo com esses garotos. Eles não são prisioneiros, eles não são guardas, eles são garotos, e você é responsável." E eu acabei com o estudo no dia seguinte. A boa notícia é que eu me casei com ela no ano seguinte. Eu apenas caí na real, obviamente.Mas o ponto é: a mesma situação que pode inflamar a imaginação hostil em alguns de nós, que nos faz perpetradores do mal, pode inspirar a imaginação heróica em outros. É a mesma situação. E você está de um lado ou de outro. A maioria das pessoas são culpadas do mal da inação, porque suaa mães lhes disseram: "Não se envolva, cuide da sua vida." E você tem de dizer, "Mãe, a humanidade é parte da minha vida.".Então a psicologia do heroísmo é como incentivamos crianças para o caminho do novo herói, é ensiná-los habilidades. Para ser um herói você tem de aprender a ser um divergente, porque está sempre indo contra a conformidade do grupo. Heróis são pessoas comuns cujas ações sociais são extraordinárias. São pessoas que agem. As chaves para o heroísmo são:
1-Agir quando outras pessoas são passivas.
2- Agir de modo sociocêntrico, não egocêntrico.
Mostro o exemplo de Wesley Autrey, herói do metrô de Nova York. Um afro-americano de 50 anos, trabalhador de construção. Ele estava esperando no metrô em Nova York; um homem branco cai nos trilhos. O vagão do metrô está chegando. Havia 75 pessoas lá. Sabem o que aconteceu? Elas paralisaram. Ele tinha um motivo para não se envolver. Ele é negro, o cara é branco, e ele tem dois filhos pequenos. Entretanto, ele deixa seus filhos com um estranho, salta nos trilhos, coloca o cara entre os trilhos, deita sobre ele, o metrô passa por cima dele. Wesley e o cara: meio metro de altura. O trem passa dois centímetros acima. Um centímetro teria arrancado sua cabeça. E ele diz "Eu fiz o que qualquer um poderia fazer," não é grande coisa pular nos trilhos.O imperativo moral é "Eu fiz o que qualquer um deveria ter feito."
Então um dia, você estará em uma nova situação. Siga um caminho e será o perpetrador do mal. Mal, significa que você será Arthur Anderson. Você vai trapacear, você vai permitir prepotência, prconceito e violência, culpado do mal de inação passiva.
Ou se torna um herói, esperando pela situação certa aparecer, para por a imaginação heróica em ação. Vamos nos opor ao poder dos maus sistemas em casa e no mundo, e vamos focar no positivo. Advogar o respeito da dignidade pessoal, a justiça e paz, coisa que, infelizmente, nossos governos não tem feito.”
Estou feliz de ter tido a oportunidade de rever tudo isso. Me faz pensar que, mesmo quando tudo parece que sofreu um retrocesso à Idade Média, há focos de luz, que ninguém extingue, por mais que tentem. É a força de Prometeu, a mais bela das histórias na mitologia grega, e meu primeiro herói.
LAS FLORES DEL MAL file:///C:/Users/Patrizia/Downloads/As%20%20Flores%20do%20Mal%20-%20Charles%20Baudelaire.pdf
PROMETEU ACORRENTADO http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/prometeu.pdf
THE MILGRAM OBBEDIENCE EXPERIMENT http://psychology.about.com/od/historyofpsychology/a/milgram.htm
ZIMBARDO - STANFORD PRISION EXPERIMENT http://www.simplypsychology.org/zimbardo.html
Fundamental abrir a discussão para que possamos domar a maldade interior que oportunamente vai se manifestar.
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