PORQUE MUDEI DE IDÉIA

Continuo o que comecei semana passada. Vou fazer uma tradução quase ao pé da letra do que escreveu e disse o Dr. Sanjey Gupta, posto que não consegui colocar legendas no video da CNN…otimista que sou de achar que haveria a possibilidade (aliás, para ser honesta, diria que foi uma mistura de otimismo com grande dose de desconhecimento tecnológico). Mas vamos ao assunto.

Em 14 de agosto de 1970, o então secretário assistente da Saúde, aqui nos USA, Dr. Roger O.Egeberg, escreveu uma carta recomendando que a maconha fosse classificada como substância de tabela 1, coisa que não mudou até agora. Minha pesquisa começou com a leitura cuidadosa dessa velha carta, e o que encontrei foi inquietante. O Dr. Egeberg havia escolhido cuidadosamente suas palavras:

“Desde que continua existindo considerável vácuo em nosso conhecimento quanto aos efeitos da planta e das drogas ativas nela contidas, é nossa recomendação que a maconha seja mantida como substancia de tabela 1 até que se completem os estudos que estão sendo feitos pra resolver o assunto.”

E assim, não por causa de bons estudos científicos, mas pela falta deles, ficou a maconha assim classificada, e a maioria dos estudos aos quais o acima citado se referia, jamais foram completados. Pior, com a continuação de minha investigação, descobri que Egeberg já tinha pesquisas importantes que poderia ter usado, algumas de 25 anos antes.

ALTO RISCO DE ABUSO

Em 1944, o prefeito de NY, Fiorello LaGuardia, comissionou pesquisa a ser feita pela Academia de Ciências de NY, e entre suas conclusões veio que maconha não produz dependência significativa, no sentido médico do têrmo. Também não encontraram qualquer evidência que o uso de maconha leva a dependência de morfina, heroina ou cocaina.
Agora sabemos que, embora as estimativas variem um pouco, que a maconha leva à dependência de 9 a 10% de seus usuários adultos. Comparando com cocaina, que é tabela 2, ou seja, com menos potencial de abuso que tabela 1, leva à dependência cerca de 20% de seus usuarios, e a heroina, cerca de 25%.
Mas o pior mesmo é o tabaco, que provoca dependência em cerca de 30% de seus usuários, muitos dos quais vão à morte fumando.
Há clara evidência que, em algumas pessoas a abstinência de maconha pode levar a sintomas tipo insonia, ansiedade e náusea, mas mesmo considerando isso,é dificil provar que tem alto potencial para abuso. Esses sintomas nada são se comparados com os sintomas de abstinência das outras drogas acima mencionadas. Aliás, é só ver abstinência a álcool, cujos sintomas podem matar.
Quero mencionar uma preocupação que tenho, como pai que sou. Cérebros jovens e em desenvolvimento são mais susceptiveis aos maleficios da maconha do que cérebros adultos. Alguns estudos recentes demonstraram que o uso regular em adolescentes leva a permanente diminuição no Q.I. Outras pesquisas mostram que pode haver risco de desenvolver uma psicose.
Assim, da mesma maneira que não os deixaria beber bebidas alcoolicas, também não permitiria que usassem maconha até a idade adulta, e mesmo assim faria de tudo para que não o fizessem antes dos 25 anos, que é quando o cérebro já está totalmente desenvolvido.

BENEFICIOS MÉDICOS

Enquanto investigava, notei algo muito importante. Maconha médica não é nenhuma novidade, e a comunidade médica tem escrito a respeito por longo tempo. Há centenas de artigos medicos documentando os benefícios, mas a maioria deles foi escrita entre 1840 e 1930, descrevendo os efeitos da maconha para tratamentos de “neuralgias, convulsões, anorexia”entre outras coisas.
Uma busca pela Biblioteca Nacional de Medicina ano passado, levantou mais de 20000 artigos recentes, mas, em sua maioria, a pesquisa era a respeito dos prejuizos causados pela maconha, coisas tais como “Viagem ruim causada pelos efeitos anticolinérgicos da canabis” ou “Pancreatite induzida por canabis”ou “Uso de maconha e risco de câncer de pulmão”.Pelos meus calculos, apenas 6% dos estudos investigam os beneficios médicos do uso da maconha, o restante, os prejuizos, o que produz uma imagem altamente distorcida.

OS DESAFIOS DA PESQUISA A RESPEITO DE MACONHA

Para se estudar a maconha, aqui nos USA hoje, há necessidade de duas coisas importantes:
Antes de qualquer coisa, precisa-se da maconha, e ela é illegal. Os cientistas podem pesquisar a mesma, quando proveniente de uma fazenda especial no Mississipi, que, espanto dos espantos, localiza-se bem no meio da Universidade do Mississipi (Ole Miss). Quando fui lá este ano, nenhuma maconha estava crescendo lá. Por aí dá para notar a complicação.
A segunda coisa necessária é aprovação do Projeto, que é um trabalho sem fim e entediante, pois, enquanto um estudo sobre câncer pode ser primeiramente avaliado pelo Instituto Nacional do Câncer, ou um estudo sobre dor pelo Instituto Nacional de Disturbios Neurológicos, há mais uma aprovação necessária para estudos com maconha: NIDA ou o Instituto Nacional de Drogas de Abuso, cuja missão é estudar os abusos das drogas e não seus benefícios.
Presos, no meio da confusão, estão os pacientes que dependem da maconha como remédio, às vezes como única opção.
Tenha em mente que, até 1943 a maconha fazia parte da farmacopéia Americana, e uma das condições em que era usada era para tratamento de dor neuropática, que
é uma dor miserável e de difícil tratamento. É descrita por pacientes como sendo “lancinante, assim como se milhares de agulhas em brasa estivessem entrando". E,embora faça tempo que a maconha venha sendo documentada como sendo efetiva para essa dor horrivel, as medicações mais prescritas hoje em dia provém da papoula, incluindo morfina, oxycodone e dilaudid.
E aqui está o problema: muitas dessas medicações não funcionam muito bem para este tipo de dor, e a tolerância é um problema sério.
O que mais me assusta é que alguém more, aqui nos USA, a cada 19 minutos por overdose de drogas prescritas por médicos. É uma estatística horripilante, e por mais que procurasse, não consegui achar uma única morte por overdose de maconha.
Vai daí que não é nenhuma surpresa que 76% dos medicos entrevistados em recente pesquisa, disseram que aprovariam o uso da maconha para mitigar dores de pacientes com cancer de mama.
Quando a maconha se tornou uma substância de tabela 1, havia a necessidade de “preencher o vácuo em nosso conhecimento”. Nos USA isso tem sido um enorme desafio por causa da infraestrutura que existe para os estudos de substâncias ilegais e com uma organização que tem por objetivo combater as drogas, na base do processo. E apesar disso, o progresso foi considerável.
Estou muito interessado nos estudos que estão sendo feitos na Espanha e em Israel, quanto aos efeitos anticancerigenos da maconha e seus components. Estou interessadissimo no estudo em neuro proteção que está sendo desenvolvido por Lev Meschoulam em Israel, e nas pesquisas, aqui nos USA , em Distúrbio do Stress Pós Traumático, e prometo, de minha parte ajudar, honesta e genuinamente a preencher o restante do vácuo em nosso conhecimento.

Pois então é isso. Também estou meio tonta com tanta informação nova e por ter sido bombardeada por uns 25 anos , de todos os lados, com o “horror”da coisa como “porta de entrada”para todas as dependências do universo. Embora nunca tivesse entendido, nem concordasse com a idéia, não se faz parte de uma comunidade por mais de 25 anos, sem que nosso pensamento independente e a observação diária fiquem alterados pelo meio, ou permanecemos completamente impunes a bombardeio ideológico. Então as próximas postagens serão sobre dependências. De volta à casa.

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