VIOLÊNCIA E APRENDIZADO
Violência e/ou o medo dela têm sérias implicações em termos de desempenho, frequência e graduação escolar.
A presença da violência impacta não apenas os indivíduos que a cometem ou sofrem, mas também todas as instituições e a comunidade, interferindo com o aprendizado e sucesso nos estudos.
Embora as estatísticas abaixo sejam todas americanas, dado que não achei nada parecido no Brasil, tenho certeza que podem ser extrapoladas, pois, infelizmente, temos a triste tendência de copiar os piores hábitos dos hermanos aqui do norte. Então vamos aos fatos:
Um em cada 4 estudantes do ensino fundamental e médio é vítima de violência na escola ou em torno da mesma. (1)
Medo, na escola e na comunidade, tem efeitos mensuráveis sobre a frequência escolar,
o comportamento e as notas (2)
Crianças no início do ensino fundamental, e que tem história de exposição à violência ou dela são vítimas, têm, em média, 7 pontos a menos na medida de QI (quociente de inteligência) e maior dificuldade em aprender a ler e escrever. (3)
Crianças de escola fundamental e média em ambiente urbano, e que testemunharam atos violentos na comunidade, apresentam níveis mais baixos de excelência acadêmica, o que persiste ao longo do tempo. (4)
No nível da comunidade, violência causa:
Ruptura das redes sociais essenciais para um ambiente de apoio básico, para que possam existir escolas de qualidade (5)
Desestimula o investimento em instituições comunitárias como escolas (6)
No nível individual:
Afeta a saúde emocional dos pais, influenciando sua capacidade de atender a questões escolares (7)
Gera estresse e ansiedade entre as crianças, afetando sua capacidade de se concentrar no aprendizado, e pode causar distúrbios dos stress pós traumático (8)
Leva à diminuição da frequência escolar, por medo do que pode acontecer indo para a escola, ou/e dentro da mesma (9)
No nível institucional (escola):
Cria um ambiente de restrição e de medo, que interfere no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criatividade e na capacidade de pensamento crítico e exploratório. (10)
Desgasta os recursos necessários para garantir ao estudante o aprendizado de disciplina, pertencimento e cidadania (11)
Instila medo nos professores e administradores, afetando assim sua capacidade de se concentrar em educar e apoiar os alunos. (5, 10, 11)
Cria um ambiente de medo, que afeta a capacidade para recrutar e manter professores e administradores de qualidade (4,10,11)
O que significa isso tudo? Significa que estamos numa situação perversa, que só pode gerar mais violência.
Lembro perfeitamente que quando era criança, o estudar em escola pública era muito mais difícil que em escola particular. Não havia cursinhos para o vestibular, o colégio bastava para tanto. E aí aconteceu 1964 e a Ditadura. Não lembro exatamente em que ano aconteceu precisamente o que, mas recordo perfeitamente de ter ido fazer cursinho junto com o terceiro ano do que, na época, chamava-se científico. Também me lembro que assim, de repente, faculdades particulares foram abrindo em tudo que era lugar. Também me lembro, durante a faculdade, do medo que permeava o falar. Ninguém sabia se estávamos falando com um amigão querido ou alguém infiltrado para dedar os perigosos "esquerdistas" estudantes. O que lembro bem foi a decadência terrível do ensino público, que era (e deveria continuar sendo), a coisa mais democrática a ser oferecida. Agora há que se pagar excelentes colégios particulares, para que o jovem tenha a possibilidade de entrar numa Universidade Pública, tipo USP, que continua sendo gratuita.
Embora a diferença seja que aqui, a cada semana tem um desastre do tipo gente entrando em escolas e atirando, ou matando o motorista de ônibus e pegando as crianças, aí no Brasil, embora seja raríssimo tiroteio dentro de escola, a violência em torno da mesma, ou espalhada pela cidade toda, é diária e contínua. Só para lembrar alguns dados que peguei de jornais brasileiros:
Globo news 29/11/2012 "- Brasilia
"Na maior universidade da capital, um professor acabou no hospital após ser agredido por um estudante. Em uma escola pública de ensino básico, um aluno foi morto a facadas pelo colega. “A violência nas escolas reproduz a violência na sociedade, não é um fenômeno intramuros isolado”, afirma a coordenadora de Ciências Humanas e Sociais da Unesco no Brasil, Marlova Noleto."
“As percepções de alunos, pais e membros do corpo técnico pedagógico de escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras estão reunidas no livro "Violências nas escolas", o maior e mais completo estudo já feito sobre o assunto na América Latina. A pesquisa foi desenvolvida nas áreas urbanas das capitais dos Estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo e em Brasília (DF)”.
UOL Educação
"Violência urbana: Homicídios no Brasil superam números de países em guerra. Na semana passada, uma adolescente de 15 anos foi assassinada por causa de um aparelho celular em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Ela foi mais uma vítima da onda de violência na maior metrópole do país, que em apenas uma semana deixou pelo menos 50 mortos."
Creio que é suficiente. Ficamos horrorizados com os "loucos americanos", mas quem é pior? E o problema também não está em se decidir quem é mais maluco, embora mister se faça esclarecer que, violência, assassinatos e horrores causados por doentes mentais somam menos que 5% de todos os casos de violência, só que quando eles cometem algum, é notícia de TV por uma semana. Mais, quando um doente mental comete um ato desatinado, não o faz por ganância, arrogância ou por pertencer a alguma gangue. O faz seguindo suas vozes internas que confundem e atrapalham a percepção de realidade.
Creio que o grande problema é que nos adaptamos à violência. Faz parte de nosso dia a dia, e o que fazemos para combatê-la é colocar grades em portas e janelas, vamos morar em redutos cada vez menores, de "gente de bem", pagando absurdos por sistemas de segurança manejados por muito mal pagos e menos ainda treinados "zeladores”. Ensinamos nossas crianças a não falarem com estranhos, a serem levadas e trazidas por nós mesmos até a porta da escola, estacionando em fila tripla e, surpresa das surpresas, quando fazemos isso, não achamos que estamos cometendo qualquer violência contra os pobres coitados que têm que usar a mesma rua, para, por exemplo, irem ao trabalho. Não consideramos violência quando um vereador ganha pelo menos 200 vezes mais do que um professor, vereador este, que em minha opinião de italiana do contra, como meu pai me chamava de vez em quando, tem infinitamente menor utilidade que um professor. Não consideramos violência o fato de que se paga absurdos para ter um convênio médico que pode nos deixar na mão a qualquer momento, dependendo do que decidirem os que lá estão decidindo sobre nossa saúde. E são tantos os exemplos que se continuar isto fica maior do que guerra e paz (o livro).
Na realidade, a grande solução já apontada por filósofos, sociólogos, estudiosos do assunto, pensadores, poetas e escritores (espantosamente, nunca por um político), está em nós mesmos, em nossa capacidade de nos juntarmos, praticarmos e ensinarmos a nossas crianças que "meu direito termina quando começa o seu", que ter o tênis do momento não o faz uma pessoa melhor, apenas mais um escravo das tendências, e que as velhas e boas virtudes tais como as ensinaram Aristóteles e Platão (honestidade, conhecimento, justiça, generosidade, persistência, compaixão, integridade, altruísmo, lealdade e autocontrole), ainda são, não apenas o melhor antídoto contra as vicissitudes da vida, mas a única maneira de alcançar a felicidade.
Abaixo vai uma lista dos trabalhos nos quais me baseei para as estatísticas que abrem este post. Os números 12 e 13 são links em português que merecem ser lidos.
1-Everett SA, Price JH. Students’ perceptions of violence in the public schools: a metLife survey.
2- Shakoor BH, Chalmers D. Co-victimization of African-American children who witness violence: effects on cognitive, emotional, and behavioraldevelopment. J Natl Med Assoc. 1991 March; 83(3): 233–238 and Bowen NK, Bowen GL. Effects of Crime and Violence in Neighborhoods and Schools on the School Behavior and Performance of Adolescents ,Journal of Adolescent Research July 1999 vol. 14 no. 3 319-342.
3- Delaney-Black V, Covington C, Ondersma S, Nordstrom-Klee B, Templin T, Ager J, Janisse J, Sokol RJ. Violence exposure, trauma and IQ and/or reading deficits among urban children. Arch Pediatr Med. 2002;156;280-85.
4- Henrich CC, Schwab-Stone M, Fanti K, Jones SM, Ruchkin V. The association of community violence exposure with middle school achievement:a prospective study. J Applied Dev Psych. May/June 2004;25 (3); 327-48 e Schwartz D, Gorman AH. Community violence exposure and children’s academic functioning. J Educational Psych. March 2003;95 (1); 163-73 )
5- Schwartz D, Gorman AH. Community violence exposure and children’s academic functioning. J Educational Psych. March 2003;95 (1); 163-73.
6- Buka SL, Stichik TL, BiIdthstle I, Earls FJ. Youth Exposure to Violence: Prevalence, Risks, and Consequences. American Journal of
Orthopsychiatry, 2010, 71 (3):298–310.
7- Margolin G, Gordis EB. The Effects of Family and Community Violence on Children. Annual Review of Psychology. February 2000,
Vol. 51: 445-479.
8- Schwartz D, Proctor L. Community Violence Exposure and Children’s Social Adjustment in the School Peer Group: The Mediating Roles of Emotion Regulation and Social Cognition. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 2000, 68:670–682. e Glew GM, Ming-Yu Fan, Katon W, Rivara FP, Kernic MA. Bullying, Psychosocial Adjustment, and Academic Performance in Elementary School.Arch Pediatr Adolesc Med. 2005;159:1026-1031.
9- Ratner H, Chiodo L, Covington C, Sokol RJ, Ager J, Delaney-Black V. Violence Exposure, IQ, Academic Performance, and Children’s Perception of Safety: Evidence of Protective Effects. Merrill-Palmer Quarterly. Volume 52, Number 2, April 2006, pp. 264-287.
10- Glew GM, Ming-Yu Fan, Katon W, Rivara FP, Kernic MA. Bullying, Psychosocial Adjustment, and Academic Performance in Elementary School, Arch Pediatr Adolesc Med. 2005;159:1026-1031.
11- Nansel TR, Overpeck M, Pilla RS, Ruan WJ, Scheidt P. Bullying Behaviors Among US Youth Prevalence and Association With Psychosocial Adjustment. JAMA. 2001;285(16):2094-2100.
12- Representação da Unesco no Brasil VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
13- Violência nas escolas VERGONHA BRASILEIRA
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