O ESMAGADOR PESO DA BOBEIRA (Perdão Milan Kundera)

“Há bilhões de luzes lá fora, no horizonte, e eu sei que todas elas juntas não são suficientes para iluminar a escuridão no coração de alguns homens”. Michael Connelly, The Scarecrow

Nas últimas semanas, seguimos com horror não só o assassinato de 150 pessoas por Andreas Lubitz no mal fadado vôo 9525 da Germanwings, como a incrível rapidez com a qual largamos todo o aprendido nos últimos 50 anos, e voltamos à caça das bruxas, usando os doentes mentais como bodes expiatórios.
Foi a depressão que fez o homem derrubar o avião! Pronto, simples, caso encerrado, achamos o culpado.

Simples, mas errado e profundamente cruel para os que sofrem desse distúrbio.

Andreas Lubitz deu tantas pistas de seu caráter psicopata, que não foram vistas ou foram ignoradas. (Caso queira saber mais sobre psicopatia, pode ler o artigo A Máscara da Sanidade – blog Curare Dolorem http://curaredolorem.blogspot.com/2013/11/a-mascara-da-sanidade.html e/ou baixar gratuitamente o melhor livro já escrito sobre o assunto A Máscara da Sanidade- livro PDF http://www.cassiopaea.org/cass/sanity_1.PdF),e meu objetivo com este post não é falar de psicopatia, mas sim do comportamento da mídia mundo afora.

A quantidade de artigos que li, com as mais diferentes opiniões a respeito de depressão e deprimidos foi imensa. A grande maioria escrita por gente sem qualquer conhecimento de doença mental, mas como soe acontecer, com opiniões formadas e gravadas em pedra.

Agora, o prêmio “Maldade nua e crua”, vai para um chamado “Deixem de ser coitadinhos!”, escrito por um homem que se define “psicólogo por opção e jornalista por vocação”, mandado por uma amiga que pediu minha opinião sobre o mesmo. Não vou repetir aqui a opinião que dei, posto que certas coisas só se comentam com amigos, mas dentre as preciosidades do artigo, destaco:

“Alguns parvos, falsos cientistas ou psiquiatras, vêm com a lorota de que a depressão é o resultado de uma espécie de curto circuito neuro-hormonal que nos abate, que nos faz andar cabisbaixos e sem graça diante da vida”.
A parva neurocientista aqui gostaria de passar ao não parvo psicologo/jornalista os seguintes links:
Structural and Functional Neuroimaging of Pediatric Depression (Neuroimagem Funcional e Estrutural de Depressão em Pediatria)http://primarypsychiatry.com/structural-and-functional-neuroimaging-of-pediatric-depression/
fMR Imaging Aids in Identifying, Treating Major Depression (Ressonância Magnética Funcional ajuda na identificação e Tratamento de Depressão Maior) http://www.rsna.org/NewsDetail.aspx?id=6324

“Se formos “brigões” diante da vida, no sentido de não nos abatermos por pouco ou mesmo por muito, nunca saberemos o que é depressão. Se estivermos ativos, fogosos diante de um sonho, seremos vencedores, de um modo ou de outro. Os pífios se abatem, acham-se vencidos diante de desafios, entregam-se e não lutam. E mais que tudo, são pessoas que não têm ardentemente um sonho por que lutar. Têm, isso sim, falsos desejos. São covardes existenciais e tipos muito perigosos para si mesmos e para os outros”
Tirando os insultos aos doentes, os quais muito me irritaram, gostaria também de informar ao prezado especialista, que uma das principais caracteristicas da personalidade psicopatica é exatamente essa de ser extremamente “brigão” na vida, sem consideração pelas consequências, com o único pensamento/desejo de “vencer”não importando em quem ou que é destruido/insultado/machucado. O que é óbvio no artigo.

“Agora veja este trecho que vem da Organização Mundial da Saúde: – “A biologia sozinha não explica a depressão”.”
Não, claro que não. Como qualquer doença, a não ser as genéticamente determinadas, há muitos outros fatôres em jogo, mas a frase acima foi tirada do contexto no qual fazia sentido. Aqui vai o link para o que a OMS disse a respeito: Depression, a hide burden (Depressão, o ônus oculto) http://www.who.int/mental_health/management/depression/flyer_depression_2012.pdf?ua=1

“A biologia é escrava da mente.”
Mesmo? Conta essa para quem tem doenças genéticas, nasceu com elas, tipo hemofilia, fibrose cistica, síndrome de Down, distrofia muscular de Duchenne, neurofibromatose, rim policistico, doença falciforme, fenilcetonúria, citando só as que me lembro assim de momento.

“Quem quiser acabar com a “depressão”, o aborrecimento no trabalho, o caminho é fácil: torne-se competente, brigão por resultados, ético, comprometido e “indispensável” para a empresa. Santo remédio contra a depressão de covardes sem brio nem talento.”
Essa é dificil de comentar, porque equalizar uma doença com um aborrecimento é mais ou menos como comparar o trabalho de Einstein com a diluição de remédios homeopáticos. Não faz sentido.

Mas, como me informou a amiga, tal artigo está sendo muito discutido, posto que polêmico. Minha questão é: Polêmico por que? É um amontoado de “opiniões” tão válidas quanto a teoria de que a Terra é chata e o sol roda em volta dela. Pensei que essa "polêmica”havia sido resolvida há uns 500 anos. Pelo visto, estou errada.

Pelo visto, xingar doentes mentais é sinônimo de “competencia e ética”, ao menos na visão do autor.

Muito triste esse estado de coisas. Assustador que quem o faz seja um psicologo. Apavorante que seja um jornalista.

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